Agronegócio
Estudos genéticos selecionam variedade de café arábica para a região Amazônica
Rondônia é o quinto maior produtor de café do País e o segundo da espécie canéfora.
Terça-feira, 11 Junho de 2019 - 09:45 | da Embrapa
Estudos desenvolvidos pela Embrapa Rondônia durante 13 anos apontam a cultivar de café arábica Catucaí Amarelo 2SL como muito produtiva para a região amazônica. Desenvolvida pela Fundação Procafé, ela já era indicada para plantio no sul de Minas Gerais, mas as análises genéticas conduzidas pela Embrapa comprovaram o seu potencial produtivo também em temperaturas elevadas, possibilitando estender a recomendação de plantio para Rondônia, em regiões acima de 300 metros de altitude, com temperaturas médias próximas de 26°C.
Os estudos duraram 13 anos e selecionaram a cultivar e duas linhagens entre 57 genótipos de café arábica avaliados, pois elas mostraram produtividade acima de 35 sacas por hectare, acima da média brasileira de 30 sacas por hectare.
Além disso, a qualidade da bebida superou as expectativas, alcançando notas superiores a 80 pontos, na escala de 0 a 100 da Associação Americana de Cafés Especiais (SCAA), o que a coloca na categoria de café especial, de acordo com os padrões internacionais de qualidade. O Catucaí Amarelo apresentou corpo acentuado, cremoso, baixa acidez e sabores que remetem ao caramelo e chocolates.
Segundo o pesquisador da Embrapa Alexsandro Teixeira, a seleção do material genético mais adaptado à região e a adoção dos cafeicultores quanto ao manejo diferenciado do café arábica foram os principais desafios para alcançar a indicação da cultivar.
Primeiro arábica para a Amazônia
Rondônia é o quinto maior produtor de café do País e o segundo da espécie canéfora (conilon e robusta). Seu cultivo é realizado por cerca de 20 mil produtores familiares e exclusivamente da espécie canéfora. “A indicação de uma cultivar da espécie arábica é estratégica para o estado, pois atende a demanda por esse tipo de grão na região amazônica, tanto para a produção de cafés especiais, ou gourmets, quanto para a utilização em blends, que é a mistura de grãos de cafés arábica e canéfora”, explica Teixeira. Atualmente, todo o café arábica consumido no norte do País é oriundo de outras regiões produtoras, como Minas Gerais e São Paulo.
Mais de uma década de pesquisa
No início de 2005, a Embrapa Rondônia e a Embrapa Café, em parceria com o Instituto Agronômico de Campinas (IAC) e a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), deram início às pesquisas de melhoramento genético da espécie Coffea arabica L. nas condições climáticas da Amazônia. O objetivo foi avaliar e selecionar genótipos de café arábica nas condições de baixas altitudes e temperaturas elevadas.
As principais características buscadas durante o processo seletivo foram a produtividade e o ciclo de maturação tardio. Ao longo dos anos, observou-se que o café arábica amadurece mais cedo em regiões de clima quente, o que, para as condições amazônicas, coincide com as altas precipitações dos meses de fevereiro a março, dificultando a secagem dos frutos.
As cultivares de café arábica disponíveis atualmente são adaptadas às regiões de altitudes elevadas e temperaturas amenas, com médias anuais entre 18ºC e 23ºC, ao contrário do que ocorre na Amazônia Ocidental, onde são verificadas baixas altitudes e temperaturas médias elevadas, em torno de 25ºC a 27ºC durante todo o ano. Temperaturas acima de 23ºC provocam crescimento e desenvolvimento acelerado dos frutos (ciclo precoce), o que, em determinadas situações, pode ocasionar a perda de qualidade dos grãos. Outro fato prejudicial é a combinação de temperaturas elevadas e alta umidade do ar durante o florescimento, ocasionando o abortamento excessivo de flores.
O resultado das pesquisas oferece aos produtores uma opção de plantio de uma cultivar de café arábica adaptada às condições amazônicas e o acesso a um nicho de mercado interessante, já que todo o café dessa espécie consumido na Região Norte vem de outros estados.
Produtividade alcançou 51 sacas/ha
A Embrapa testou 25 genótipos em quatro locais de Rondônia e Acre e a cultivar Catucaí Amarelo 2SL, juntamente com as linhagens H514-7-10-6-9 e H514-7-10-6-2-3-9, obtiveram excelente desempenho produtivo em Rondônia, nas regiões com altitudes acima de 300 metros.
Nos ensaios realizados no município de Alta Floresta d’Oeste, em altitude de 350 metros, a produtividade média de três anos da cultivar foi de 36 sacas/ha, sendo que na segunda colheita a produtividade chegou a 51 sacas/ha. Esse desempenho, segundo o pesquisador, motivou a extensão de recomendação dessa cultivar para as regiões de maior altitude em Rondônia, abrangendo 14 municípios ao sul do estado: Alta Floresta d’Oeste, Alto Alegre dos Parecis, Rolim de Moura, Cacoal, Presidente Médici, Espigão d’Oeste, Pimenta Bueno, Vilhena, Chupinguaia, Corumbiara, Cerejeiras, Pimenteiras, Cabixi e Colorado do Oeste.
As linhagens H514-7-10-6-9 e H514-7-10-6-2-3-9 obtiveram produtividades médias de 41 sacas/ha e 37 sacas/ha, respectivamente, no ensaio realizado em Alta Floresta d’Oeste. Como são linhagens, optou-se por avançar mais uma geração no programa de melhoramento a fim de aprimorar a uniformidade de maturação dos frutos e, consequentemente, obter melhores resultados na qualidade de bebida. Dessa forma, a previsão de lançamento dessas linhagens como cultivares recomendadas deverá ocorrer em 2021.
Além da boa demanda, o cultivo do arábica também é beneficiado pelas áreas planas distribuídas nas regiões recomendadas, o que viabiliza a colheita mecanizada e reduz significativamente custos de produção.