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Em dois anos, Rondônia registra quase 1 mil novos casos de HIV; cerca de 10% abandonam tratamento
Sexta-feira, 01 Dezembro de 2017 - 10:21 | por Marilza Rocha
Esta sexta-feira, 1º de dezembro, é o Dia Mundial de Luta Contra a Aids. De acordo com Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) do Ministério da Saúde, em 2016 e 2017 foram notificados 991 novos casos de HIV positivo em Rondônia. Somente no município de Porto Velho foram 509. Nesse mesmo período, 82 mulheres grávidas foram diagnosticadas com a doença no estado.
A partir desta sexta-feira, começa a campanha “Vamos combinar: Prevenir é Viver”, coordenada pelo governo do estado. Com foco na prevenção, assistência, proteção e promoção dos direitos humanos das pessoas que vivem com HIV/AIDS, haverá uma vasta programação com palestras de três médicos infectologistas.
Segundo o farmacêutico Adriano Passarela, fundador do Grupo Positivo em Porto Velho, o Brasil vive uma epidemia de HIV/Aids. “Temos hoje, uma média de 855 mil pessoas vivendo com HIV/Aids no Brasil. Só que existem as pessoas que não estão em tratamento por algum motivo: as que se recusam ao tratamento, as que não sabem e as que se negam a fazer o tratamento”, diz Adriano Passarela.
O dados do Sinan mostram ainda que em 2016 e 2017, houve três casos de HIV positivo em crianças, nos municípios de Porto Velho, Jaru e Ji-Paraná. “Provavelmente as mães dessas crianças não fizeram o pré-natal ou não foram acompanhadas no serviço de atendimento especializado. Quando a mãe detecta no pré-natal o HIV positivo é feita a profilaxia para diminuir o risco da criança contrair HIV. Hoje em dia, é feito todo o acompanhamento através do SAE com consultas, medicação, exames laboratoriais para evitar que o vírus seja transmitido às crianças”, explica a enfermeira Gilmarina Silva Araújo, da Agência Estadual de Vigilância Sanitária (Agevisa).
No total, nos últimos dez anos, de 2007 a 2017, o Sinan notificou em Porto Velho, 2.401 pessoas vivendo com HIV/Aids, na faixa etária de 20 a 39 anos de idade. Desse total, 1.682 são heterossexuais, 502 homossexuais e 86 ignorados. Os casos de Aids são 1.980, sendo 1.265 masculino e 715 feminino. A quantidade de crianças foram 27, sendo 17 masculino e 10 feminino.
Para Passarela, os dados oficiais não mostram a realidade, pois ele acredita que quando unificados, os três sistemas do Ministério da Saúde que monitoram o HIV/Aids não revelam os números exatos.
O farmacêutico descobriu há sete ano que é soropositivo e, desde então, começou a fazer parte de movimentos em todo o país, como a Rede Nacional de jovens e Adolescentes vivendo com HIV/Aids onde foi secretário nacional de comunicação. Segundo ele, os três movimentos oficias no país só acolhem as pessoas que vivem com HIV e por isso ele resolveu criar Grupo Positividade
"Nossa proposta sempre foi de acolher não só as pessoas com HIV, mas com hepatite, com o HPLV, vírus linfotrópico da célula T humana, mesma família do HIV, onde o Brasil é o país de maior incidência mundial e ninguém fala do assunto; acolher as pessoas com doenças crônicas afins ou que se sintam afetadas", explica Passarela.
O Grupo Positividade tem uma demanda de 15 pessoas por dia que procuram tirar dúvidas, querem orientações e dentro do grupo existem médicos psiquiatras, advogados, defensores públicos. O foco é acolher as pessoas e trabalhar os direitos e deveres delas no atendimento do Sistema Único de Saúde (SUS).
“Para melhorar o sistema de saúde, está faltando eficácia e eficiência na aplicação dos recursos públicos. Por exemplo, pela primeira vez as contas do Ministério da Saúde foram reprovadas pelo Conselho Nacional de Saúde (CNS). Isso quer dizer que pela questão de orçamento, verbas estão sendo remanejadas atingindo todo o país”, afirma Passarela.
Porto Velho
A abertura das atividades do Dezembro Vermelho da Secretaria Municipal de Saúde (Semusa) de Porto Velho, acontece nesta sexta-feira, no Serviço de Assistência Especializada (SAE), também com palestras.
Dados da Semusa revelam que na capital rondoniense 208 novos casos de Aids foram registrados este ano. Desse total, 115 são de heterossexuais e 73 de homossexuais. O restante são pessoas usuárias de drogas e bissexuais. Dos 208 casos, 161 são do sexo masculino e 47 do sexo feminino, sendo que 17 são mulheres gestantes.
Estão cadastrados nos Serviços de Atendimentos Especializados (SAEs), 3.941 pacientes vivendo com HIV. Mas, ativos no cadastro em 2017, estão 2.699, sendo que 159 pessoas transferiram o tratamento para outros municípios e 370 pacientes abandonaram o tratamento. Há ainda 80 crianças expostas e 50 crianças com Aids. Foram 387 mortes. “Cerca de 10% dessa população abandona o tratamento”, lamenta o coordenador municipal da IST’s/Aids da Prefeitura de Porto Velho, Raymison Correa da Silva.
Para tentar conscientizar a necessidade de prevenção e de continuidade do tratamento, a Semusa diz que preparou uma programação bem diversificada para todo o mês de dezembro. Serão ofertados nos consultórios de rua, mais de 7 mil testes rápidos, entre sífilis, hepatite B e C e HIV nas avenidas Rio Madeira, Pinheiro Machado, Carlos Gomes, no terminal de integração, Porto Velho Shopping, nas praças CEU no bairro JK, na Praça da Pirâmide, na Zona Sul e na praça Aloísio Ferreira, no bairro Caiari. As atividades também incluem ações de prevenção como a distribuição preservativos.
Diagnóstico e tratamento
A porta de entrada do diagnóstico do HIV/Aids são os postos de saúde nos municípios que oferecem o teste rápido. Segundo a enfermeira Gilmarina Silva Araújo, da Agesiva, é um demanda espontânea sem agendamento, sendo necessária apenas a apresentação de RG e o serviço é realizado de maneira sigilosa. Se o resultado é HIV reagente, o paciente é encaminhado ao Serviço de Atendimento Especializado (SAE).
Nos SAEs são feitas triagem, com as consultas de enfermagem, médica, psicóloga, serviço social e finalizando o fluxo do atendimento na farmácia.
“Na consulta médica é traçado um projeto terapêutico do paciente, avaliado como ele está naquele momento, solicitado exames necessários e dessa consulta, ele sai com a prescrição da medicação para início do tratamento antirretroviral, que são fármacos usados para o tratamento de infecções por retrovírus, principalmente o HIV”, explica a enfermeira chefe de Núcleo de IST, Aids e Hepatites Virais da Agevisa.
Gilmarina ainda acrescenta que atualmente são mais de 40 medicações indicadas para o tratamento de HIV.
A partir da consulta no SAE, a notificação do paciente vai direto para dois sistemas do Ministério da Saúde: o Sinan que coleta, transmite e dissemina dados gerados rotineiramente pelo Sistema de Vigilância Epidemiológica das três esferas de governo, por intermédio de uma rede informatizada, para apoiar o processo de investigação, além de vir a indicar riscos aos quais as pessoas estão sujeitas e automaticamente; e o Siclom, sistema que gerencia os medicamentos antirretrovirais e permite que o Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das IST, do HIV, Aids, Hepatites Virais se mantenha atualizado em relação ao fornecimento de medicamentos aos pacientes.
Com relação ao tratamento antirretroviral a enfermeira da Agevisa alerta que ele é recomendado para toda as pessoas que têm o HIV positivo e deve ser iniciado o quanto antes. O tratamento traz vários benefícios, como redução das complicações relacionadas às infecções pelo HIV; melhora da qualidade de vida; diminuição da mortalidade; e redução da transmissão do vírus. “Sem falar que os preservativos feminino e masculino protegem do HIV/Aids, Hepatites virais e outras ISTs”, alerta Gilmarina.
Dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), do Ministério da Saúde (MS) de 2016 a 2017 revelam 82 casos de gestantes infectadas com HIV positivo em Rondônia, essas mulheres foram acompanhadas nos SAEs e fizeram pré-natal de alto risco. As principais cidades que existem maior índice de grávidas com HIV são: Porto Velho (41 casos), Ariquemes (12) e Vilhena (7). Em 2016, foram identificadas 55 gestantes, sendo 24 gestantes em Porto Velho, 10 no município de Ariquemes, sete em Vilhena, quatro casos em Cacoal e Candeias do Jamari.
Conforme a Agevisa, o órgão, além de instrumentalizar os profissionais de saúde, faz o planejamento, organização e execução das ações realizadas nos diversos municípios, com a distribuição dos preservativos masculino e feminino, materiais informativos e educativos, como os folderes, banner, faixas, cartazes, disponibiliza manuais de orientação e protocolo para os profissionais, os testes rápidos para toda rede de capilaridade existentes nas unidades de saúde.
“Na prevenção, a prefeitura trabalha com o aconselhamento dos pacientes, com uma equipe especializada, orientando, mobilizando, sensibilizando e norteando as pessoas para elas não se expor mais a situações de risco e das possibilidades dos testes que ela tem a sua disposição, do tratamento e da medicação”, alerta Raymisson.
O município de Porto Velho oferece os testes rápidos nas 55 unidades básicas de saúde, sendo 18 na zona urbana e as outras unidades distribuídas nas localidades ribeirinhas, nos distritos. Segundo o coordenador Raymison Correa da Silva, as unidades tem as equipes de saúde da família que contam com profissionais para abordar a questão da sensibilização das DST/Aids.
Rede de testes rápidos
No sentido de reorganizar a Rede de capilaridade dos testes rápidos no SisLoglab - sistema de informação desenvolvido para o gerenciamento dos insumos laboratoriais disponibilizados pelo Ministério da Saúde, por meio do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais foi promovido esta semana uma capacitação com a presença de mais de 90 servidores do estado, dos 52 municípios e da rede particular. O evento aconteceu em Porto Velho.
O objetivo foi aprimorar o processo logístico que envolve tanto aquisição quanto distribuição, trabalho conjunto entre o Ministério da Saúde e os estados para evitar perda ou falta de teste.
Conforme explicou o consultor Antônio Flávio, da Organização Pan-Americana da Saúde, que presta serviços na logística do Departamento de DST Aids do MS, o objetivo foi aprimorar e organizar a rede de testes rápidos que o estado já tem e harmonizar as informações que o Ministério precisa para garantir a contínua oferta dos testes rápidos.
Segundo ele, mais de 5 mil municípios brasileiros já contam com o teste rápido. O MS está construindo novas ferramentas para atender o país inteiro e o que falta agora são as prestações de contas adequadas no sistema.
“Nos últimos três meses, apenas 22 dos 244 locais do todo o estado que recebem testes do Ministério da Saúde preencheram corretamente as informações dos campos dos Mapas de testes rápidos no SisLoglab", disse o consultor.