"Corponectivos": uma noite de dança no SESC

Semana passada, mais especificamente quinta-feira, assisti no Teatro Um do SESC a estreia do espetáculo “Corponectivos”, uma iniciativa inédita do SESC Rondônia em investir na dança contemporânea com direção da coreógrafa Cristiana Peixoto e cenografia de Ismael Barreto. Já na minha chegada tive uma visão de encher os olhos, uma fila na entrada do teatro.

Esta minha alegria aos mais novos pode parecer estranha, mas para quem milita na área cultural há mais de 20 anos como eu, ver fila na frente de qualquer espaço cultural traz grande felicidade, ainda mais em nossa cidade, onde tempos atrás nós, artistas, tínhamos uma verdadeira batalha para colocarmos público dentro do Teatro Um do SESC. Foi uma luta árdua de artistas como Ângela Cavalcanti, Alejandro Bedotti, Suely Rodrigues, Chicão Santos, Claudio Vrena dentre outros, além de não podendo esquecer de Jango Rodrigues, Xuluca Pachego, Juruna, Gibasan, que infelizmente já nos deixaram, mas contribuíram de forma decisiva para a formação de plateia em nosso Estado.

O espetáculo em questão era o “Corponectivos”, apresentado através do Núcleo de Dança Contemporânea do SESC. Trata-se de um trabalho que desenvolve a simetria do corpo humano e o espaço pessoal do movimento, inspirado nos desenhos do Homem Vitruviano, desenhado por volta de 1490 por Leonardo Da Vinci.

Com o teatro lotado assisti a um espetáculo convincente, já que estamos falando de um elenco formado por jovens artistas, e não por bailarinos profissionais. Também tínhamos em cena atores, atrizes, dentre outros profissionais.

A coreógrafa nos trouxe um espetáculo leve, amarrado cenicamente com competência. Mesmo sendo Christina ainda muito jovem, vemos em sua encenação uma preocupação com a estética, livre, sem marcações excessivas, possibilitando aos bailarinos a execução de seus movimentos de forma graciosa, trazendo ao público certo frescor.

Outra coisa que nos agrada em cheio é vermos um elenco formado por pessoas normais. Explico: melhor termos a possibilidade de ver um espetáculo de dança com corpos que estamos acostumados a ver no nosso dia a dia, e não de corpos super malhados, reforçando cada vez mais a tirania da estética imposta pelo mercado da beleza. É bonito ver GENTE em cena, bem resolvida com seu corpo e o utilizando de maneira prazerosa. Pra mim, este é o ponto alto do espetáculo. Com uma trilha sonora pulsante, ele se desenvolve de forma livre, agradando em cheio.

A cenografia de Ismael Barreto, a kinesfera, uma esfera formada por diversos triângulos, é utilizada de forma eficaz pelo elenco, encaixando-se perfeitamente na proposta apresentada pela encenadora Cristina Peixoto. Fica aqui só a sugestão (não sou cenógrafo) para que a kinesfera tenha uma base maior para dar mais segurança aos bailarinos. Percebi em alguns certa insegurança na utilização do elemento cênico, mas logicamente temos que levar em conta que estávamos assistindo a uma estreia. Com o passar do tempo e o natural amadurecimento do espetáculo essas questões serão equacionadas.

A luz não compromete, cumpre seu papel com eficiência. Em alguns momentos percebi a cena um pouco escura, mas no geral não compromete de forma alguma o resultado.

Fica aqui a nossa dica: vale, e muito, a pena ir assistir ao espetáculo “Corponectivos”, do Núcleo de Dança Contemporânea do SESC, formado por um talentoso elenco: Andrea Melo, Natanael Sussuarana, Silmara Sales, Cáio Borges, Leonardo Scantbelruy, Ana Paula Venâncio, Rafael Barros, Simone Norberto, Bruno Selleri, Rafaele Silva, Vania Souza , Isabel Oliveira, Iris Mendes, Felipe Maia, Mahmoud Baydou. Parabéns a todos!

*Judilson Dias é diretor teatral e produtor cultural.