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Mulher que pede dinheiro para tratamento de filha está em Porto Velho, mas Conselho Tutelar diz que Estado tem obrigação de pagar

Quinta-feira, 19 Setembro de 2013 - 10:55 | Extra de Rondônia


Durante essa semana uma mulher que se identificou como Ana Lucia Silva de Oliveira, percorreu vários bairros de Vilhena pedindo dinheiro, que segundo ela, seria para uma cirurgia da filha, Maria Gabriela Oliveira da Silva, de três anos de idade, portadora da síndrome de Pleiffer, uma doença rara, que dentre outros sintomas tenta expulsar os olhos do portador para fora da cabeça (no caso de Maria Gabriela, além dos olhos, ela tem pouca audição, e tem a vagina interligada ao ânus).



Ana Lucia visitou a redação do EXTRA DE RONDÔNIA no início da semana, e ao conversar com a equipe de reportagem que lhe atendeu levantou inúmeras suspeitas sobre o caso. Ela disse que era moradora da capital do estado, Porto Velho, e que deixou o emprego de zeladora na escola Joaquin Vicente Rondon para cuidar da filha, que dentre outros dilemas, não consegue fechar os olhos pra dormir.

Questionada sobre sua vinda à Vilhena, Ana Lucia disse que veio direto de Porto Velho (de carona) porque alguém na capital lhe disse que as pessoas em Vilhena eram muito caridosas. Ao final da conversa, Ana Lucia disse que precisaria de R$ 10 mil para a cirurgia da filha, e que os médicos deram a menina três meses de vida. Sua calma ao falar do pouco tempo que restava à criança aumentou ainda mais as suspeitas dos Jornalistas.

Ela contou que seu objetivo no município era juntar pelo menos R$ 4400, para inteirar com o dinheiro que já tinha em uma conta registrada no nome da menina, porém administrada pela mãe. Desde a saída da mulher da sede da redação, a equipe de reportagem vem pesquisando sobre ela, e muitas informações repassadas por Ana Lúcia não tinham como ser comprovadas.

NADA CONFIRMADO

Em conversa com a direção das duas únicas escolas do estado que possuem o nome dado por ela (Joaquim Vicente Rondon, uma fica em Porto Velho e a outra em Jacy Paraná, distrito da capital) nenhum representante confirmou que Ana Lucia era, ou foi, servidora nas escolas. Após digitar o nome de Maria Gabriela no site de pesquisas “Google” a equipe de reportagem descobriu que no início do ano, Ana Lucia e a filha participaram de um programa de TV no município de Ji-Paraná, comandado pela comunicadora Silvia Cristina.

Durante a participação dela no programa, segundo matéria veiculada pelo site Diário da Amazônia, no dia 15 de janeiro de 2013, às 9:36h, um grupo composto pelas voluntárias Márcia Miranda, Laodiceia Garcia e Juliany Motta, percorreu o município e em cinco dias levantou a quantia de R$ 18 mil para a cirurgia da criança, que segundo a própria matéria, custaria R$ 20 mil, não R$ 10 mil, como havia sido mencionado por Ana Lúcia ao EXTRA DE RONDÔNIA.

Ainda segundo a matéria da página eletrônica jiparanaense Ana Lucia e Gabriela viajariam entre a quinta-feira, 17 de janeiro e a segunda feira, 21, de janeiro para São Paulo, onde seria realizada a cirurgia. O tratamento, de acordo com o site, estava orçado em R$ 20 mil e a criança permaneceria quatro meses hospitalizada.

Em contato com a própria Ana Lúcia por telefone, no final da tarde desta quarta-feira, 18, os jornalistas do EXTRA DE RONDÔNIA descobriram que mãe e filha passaram a tarde inteira percorrendo as ruas da cidade pedindo dinheiro, e Ana Lúcia confirmou que somente em Vilhena conseguiu mais de R$ 2 mil para o tratamento. “Creio que amanhã eu conseguirei o resto”, disse a mulher ao final da conversa.

PARA CT, MÃE NÃO DEVERIA EXPOR À CRIANÇA COMO ELA FEZ

O Conselho Tutelar (CT) de Vilhena foi procurado pela equipe de reportagem do EXTRA DE RONDÔNIA. As conselheiras disseram que desconheciam a situação, e que não haveria a menor necessidade de Ana Lucia pedir dinheiro para o tratamento, uma vez que Estado tem por obrigação custear cirurgias de pessoas que necessita. Além do mais, Ana Lúcia não poderia ficar expondo a criança, Maria Gabriela, da forma como fez, pelo menos em Vilhena, posando para fotos e levando a menina para programas televisivos com o intuito de levantar dinheiro para a cirurgia (a maior ferramenta de arrecadação, em Vilhena, foi um programa de TV que passa ao vivo no meio dia).

Um dos fatores que levantou mais suspeita por parte do Conselho Tutelar foi a informação, repassada pela própria Ana Lúcia ao EXTRA DE RONDÔNIA, de que ao montar acampamento nas proximidades da rodoviária, logo quando chegou ao município, no início da semana, a polícia chegou ao local e lhe ordenou que saísse. “Quando mostrei a Maria Gabriela aos policiais, eles ficaram sensibilizados e fizeram uma ‘vaquinha’ para pagar diárias em hotel pra nós”, disse Ana Lúcia.

O município mantém o Centro de Atendimento à Mulher (CAM) para atender justamente casos em que haja mulheres que necessitem de abrigo, para não precisar ficar pedindo nas ruas. As conselheiras contaram que a parceria que mantém com a PM é muito boa, e que todo caso que envolve menores de idade (sem exceção) os militares entram em contato com o Conselho Tutelar, fato que colocou em cheque a versão da mãe da menina. As conselheiras, diante das informações, encontraram Ana Lucia e Maria Gabriela por volta das 21 horas, nas proximidades do terminal rodoviário, porém a mulher já tinha comprado passagens de ônibus para a capital, e acabou embarcando na mesma noite.

“Nós conferimos os bilhetes e realmente tinham como destino a capital do estado. Entramos em contato com o Conselho Tutelar de lá e vamos monitorar ela e essa criança, para que a menina receba o tratamento necessário, sem que a mãe precise ficar pedindo dinheiro nas ruas”, disse uma das conselheiras que ligou para o EXTRA DE RONDÔNIA no início da manhã desta quinta-feira, 19, para falar sobre o assunto.

É fato que a menina sofre de uma doença grave, assim como também precisa passar por um procedimento cirúrgico para tentar reverter essa situação. O EXTRA DE RONDÔNIA não publicou nada sobre o assunto antes porque estava em busca de informações concretas que justificassem a vinda de Ana Lucia e sua filha ao município. Não foi encontrada nenhuma que provasse a veracidade do que Ana Lucia falava para conseguir apoio financeiro da população.

Nada justifica, nesse caso, ela estar na rua pedindo dinheiro para a cirurgia da filha, uma vez que o Estado tem o compromisso de custear esse tipo de procedimento cirúrgico. Ana Lucia já foi embora de Vilhena e ninguém conseguirá provar (muito menos os meios de comunicação que lhe ajudaram a arrecadar dinheiro) que os pouco mais de R$ 2 mil arrecadados em Vilhena serão destinados a essa cirurgia.
Rondoniagora.com

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