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Mulheres se destacam para salvar famílias atingidas pela cheia do Rio Madeira em Porto Velho
Sexta-feira, 08 Março de 2019 - 14:45 | da Redação
A cheia do Rio Madeira está deixando muitas famílias desabrigadas em várias localidades de Porto Velho. Para tentar minimizar o sofrimento dessas pessoas, duas mulheres da Defesa Civil Municipal se dedicam ao máximo para atender os necessitados, diariamente mapeando e levando ajuda humanitária. No Dia Internacional da Mulher, o RONDONIAGORA conta um pouco da história de vida pessoal e profissional de uma assistência social e psicóloga que atuam para salvar pessoas em estado de vulnerabilidade.
Maria de Fátima de Oliveira Mello é psicóloga há 27 anos e conta que sua trajetória na Defesa Civil começou na cheia histórica de 2014, época em que foi cedida da Secretaria de Assistência Social (Semasf) para ajudar as famílias atingidas. “Eu vim para uma missão e depois que vivenciei tudo aquilo, me envolvi nesse trabalho de ajudar as pessoas, ter contato e ver o sofrimento, eu não quis mais sair da Defesa Civil para poder ajudar essas famílias com o meu trabalho que desenvolvo com muito amor”, disse a psicóloga.
O trabalho realizado nas comunidades tem como objetivo minimizar as dores e perdas porque, segundo a psicóloga, quando a pessoa está no processo de anormalidade e de angústia os ânimos ficam muito exaltados. “Eu estou sempre nesse trabalho de mediação desses conflitos e passar para as pessoas que estão saindo de casa, ou que ainda vão sair, que amanhã pode ser ainda melhor. Hoje a água está batendo na porta, mas no dia seguinte a gente pode tornar isso melhor”, enfatizou Maria de Fátima.
Questionada como ela consegue conciliar família e profissão, a psicóloga diz que conta com a compreensão, principalmente nesse período de anormalidade que é a enchente. “Meu esposo e meus filhos sabem que a gente que trabalha na Defesa Civil sai cedo de casa e pode retornar tarde ou no dia seguinte, dependendo da missão. É uma compreensão muito grande porque eles sabem também que nosso trabalho requer nosso tempo e tudo é feito com muito amor”, ressalta Maria.
Trabalhar, ajudar, salvar vidas toca os sentimentos de Maria de Fátima que é apaixonada pela ação da Defesa Civil, o trabalho de proteger e de cuidar. “Quando eu vejo uma pessoa ou um animal precisando de ajuda, eu e toda equipe nos esforçamos ao máximo para ajudar porque sabemos que eles enxergam na gente uma esperança, principalmente aqueles que estão diretamente afetados. Nós nos dedicamos muito e deixamos nossos lares para entrar nos lares daqueles que tanto precisam da gente”, diz a psicóloga.
Durante os trabalhos realizados nas comunidades é quase que impossível não se deparar com alguma situação marcante. Maria de Fátima relembra uma cena que jamais irá sair de sua memória. “Depois que rio começou a transbordar, os trabalhos aumentaram e, há alguns dias, eu fui à comunidade chamada Brasileira. Quando os moradores viram a gente, a única coisa que eles pediam era água. Nós fracionamos 50 fardos de água para 12 famílias e nós ficamos muito comovidos porque o olhar deles era de tristeza”, lembra a psicóloga.
Quem também dedica parte da sua vida para ajudar os necessitados diariamente é a assistente social Auricélia Cavalcante Santos que chegou para compor a equipe da Defesa Civil em 2015. Casada e mãe de uma filha, ela conta que conciliar família com o trabalho não é um papel difícil porque sua família entende a dedicação e amor dela pela profissão. “Antes de sair pra missão do dia, eu já aviso, principalmente quando é distante de casa que eu posso voltar no outro dia. Nossos familiares conhecem nosso ritmo e sabem que temos hora para sair, mas não temos hora para voltar”.
A responsabilidade da assistente social e de toda a equipe é muito grande já que lidam diariamente com pessoas. Auricélia é responsável por atender 17 comunidades, de perto. “Eu converso com cada morador, aviso se vai encher ou não, e verifico o que eles estão precisando naquele momento. Também informamos o que eles podem fazer para não serem atingidos novamente, respeitando principalmente a cultura de cada um porque muitos já moram naquelas localidades há muitos anos”, destacou a assistente social.
Durante os nove anos de profissão, Auricélia conta que muitas coisas marcaram sua vida, mas o que ela nunca vai esquecer é da cena que presenciou na cheia história de 2014 ao sair a campo para fazer um mapeamento das áreas atingidas pela cheia. “Eu trabalhava na Secretaria de Assistência Social (Semasf) e quando chegamos às comunidades, a impressão era que pareciam cemitérios, muita lama espalhada, casas quebradas, pertences das pessoas jogados, carro, moto e restos de animais. Foi realmente uma cena muito triste e chocante que vai ficar marcada para sempre na minha vida”, relembra.
A palavra apaixonante resume o trabalho realizado em prol das comunidades, diz a assistente social. “Eu uso essa palavra porque estamos levando nosso conhecimento e muitas pessoas só querem uma conversa em meio àquela situação que estão vivendo. É muito chocante ver as pessoas precisando de ajuda e nós tentamos fazer o melhor com o pouco que temos. Eu amo meu trabalho porque estou em campo, conheço as comunidades e vivencio o que acontece com cada família e tento ajudar da maneira que a gente pode”, finalizou.