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Pescadores aguardam pagamento de Seguro Defeso para a próxima semana
Sexta-feira, 27 Junho de 2014 - 18:21 | DECOM
Pescadores de Porto Velho aguardam para a próxima semana o pagamento da parcela extra do Seguro Defeso, prometido em março pela presidente Dilma Rousseff, quando esteve na capital rondoniense, em virtude da cheia do rio Madeira, que levou o Estado à calamidade pública.
A presidente da Colônia dos Pescadores Z-1 Tenente Santana, Marina Gomes, disse que esteve em Brasília para verificar junto ao Ministério do Trabalho a liberação do pagamento e foi informada que até o final de junho o recurso para uma parcela estaria disponível nas contas dos cerca de cinco mil pescadores cadastrados, o que ela acredita que deverá acontecer pelo menos até o dia 2 de julho. Além de Porto Velho, serão beneficiados pela prorrogação os pescadores de Nova Mamoré e Guajará Mirim.
O valor corresponde a um salário mínimo e é a prorrogação do Seguro Defeso, devido aos pescadores durante o período da piracema, quando a pesca profissional fica proibida devido à desova das várias espécies, e dura três meses. Em função da enchente registrada em Rondônia, que inviabilizou o retorno dos pescadores às atividades em março, o governo federal prorrogou o benefício para mais três meses, no entanto, os pescadores temem que as outras duas parcelas não venham a ser pagas. Segundo Marina Gomes, quando esteve na capital federal, soube que os técnicos ainda estavam buscando na legislação uma forma de assegurar aos pescadores o direito de receber a prorrogação. “Até agora, estamos aguardando a publicação pelo Ministério da Pesca”.
A Piracema é o período de reprodução de diversas espécies de peixes. Ocorre a subida dos cardumes para as áreas de cabeceira dos rios onde se dá a desova. É uma temporada de restrições na pesca, para que as espécies sejam preservadas. Sua duração é de 1ºde novembro a 28 de fevereiro.
Mesmo desanimado com a demora no pagamento de mais uma parcela do Seguro Defeso, o pescador Sebastião Desmarest estava logo cedo no Flutuante da Colônia de Pescadores no Cai n’Água.
Dos 59 anos que está para completar, Sebastião, diz com orgulho que percorre as águas do Madeira, antes mesmo de pronunciar as primeiras palavras. Como pescador documentado tem 40 anos. Embora hoje não frequente as águas da bacia amazônica com a mesma frequência que antes, ainda assim tira das águas parte do seu sustento e lembra que a enchente trouxe muita tristeza para a classe de pescadores. “Muitos amigos perderam tudo”. E considerou de grande valia a oferta da presidente Dilma Rousseff, quando disse que prorrogaria o Seguro Defeso por mais três meses. “Esta demorando muito e hoje parece numa visagem, coisa que nunca vai se concretizar”. Mas ele admite que se for pago será muito bom, especialmente para as famílias mais prejudicadas. “Infelizmente cada dia que agente vai ao banco é avisado de que ainda não foi liberado”.
Jovens Pescadores
A rotina de pescador não é das mais invejáveis, a maioria, quando está em terra precisa embarcar cedo, lá pelas três da tarde e só retornam ao porto na madrugada seguinte e só podem ir pra casa dormir um pouco, depois de comercializar o pescado e deixar barco, malhadeiras e outros equipamentos prontos para uma nova partida. Assim tem sido a vida dos jovens Renato Ferreira, de 28 anos, dos quais vinte e sete dedicados a pesca. Ele diz que começou com o pai, que está impedido de pescar porque está doente. O amigo Raimundo Costa, que o ajuda a desembaraçar a rede tem 25 anos. Veio de Manicoré, no Amazonas e continua nas mesmas águas do Madeira. O amazonense que a rotina é cansativa, mas que com o passar dos anos acabam se acostumando. Nenhum dos dois cogita em trocar de ofício, mas admitem que se pudessem o fariam. “O trabalho da pesca destrói a nossa saúde muito rápido”, alega Renato.
Embaralhado nas teias da rede alguns pequenos peixes insistem em atrapalhar o trabalho dos pescadores que se mostram exaustos. Impacientes eles lançam os peixes já sem vida de volta ao rio. E dizem que agora é hora de verificar se a rede precisa de reparos. “Essa noite não foi das melhores, trabalhamos muito e trouxemos pouco, mal deu para cobrir o combustível da embarcação”.
A remuneração é um dos muitos problemas dos pescadores. “Nunca vi um pescador, mas pescador de verdade, que ficasse rico”, diz o experiente Sebastião Desmarest. Ele compara o pescador ao garimpeiro. “Garimpeiro mesmo não enrica, só o dono da draga ou o comprador de ouro. Assim é com a gente”. A desvantagem do pescador é que trabalha com um produto altamente perecível, se não vende apodrece e não tem como buscar outros mercados.