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Seringueiros lembram trabalho de extração da borracha e falam sobre praça que os homenageia na Capital

Quarta-feira, 07 Novembro de 2018 - 11:42 | da Redação


Seringueiros lembram trabalho de extração da borracha e falam sobre praça que os homenageia na Capital

Natural do Estado do Piauí, o soldado da borracha José Romão Grande, de 95 anos, chegou a Porto Velho para trabalhar no seringal ainda jovem no ano de 1982, juntamente com a família e esposa com quem é casado há 43 anos.

Aqui, ele trabalhou durante nove anos na extração de látex. Mas, com o passar do tempo, o preço do produto caiu e ele teve que trabalhar no seringal onde, segundo ele, precisava ter muita força para carregar o que era produzido. “Eu lembro que no seringal só tinha eu e um amigo que conseguia carregar as sacas de borracha para exportar, porque eram pesadas e precisava ter muita disposição durante todo o dia de trabalho”, relembra.

Mas o serviço não parou e João enfatiza que trabalhou em vários seringais para sustentar a família e não passar problemas financeiros. Na época, as dificuldades eram grandes e tudo mais caro. “Avaliando os dias atuais eu vejo que tudo era mais caro e mais difícil, principalmente a alimentação que a gente tinha que trabalhar muito para conseguir sustentar nossa família”, afirma.

Sobre a homenagem na Praça dos Seringueiros feita pela prefeitura, João Romão diz não ter gostado apenas da estátua.

“Eu não gostei da estátua porque o seringueiro é magro e aquele que o artista plástico fez não está de acordo com nossas características. Mas nós gostamos do nome que colocaram em nossa homenagem”, avalia.

Quem também não gostou do monumento foi o soldado da borracha Antônio Falcão Ribeiro, de 85 anos, que chegou a Porto Velho no ano de 1981 para trabalhar no seringal como toqueiro. Segundo ele, a característica do seringueiro é de pessoa magra e a estátua é totalmente diferente.

“Do jeito que está ali não é um seringueiro, porque na época todo soldado da borracha era magro por causa das condições que nós vivíamos, muitas vezes comendo só farinha com sal”, diz Antônio.

Ao lembrar os velhos tempos, o seringueiro relata que ele e seus colegas de trabalho viviam isolados na mata sem ver ninguém. Durante todo o dia no seringal, Antônio conta que era responsável por limpar o toco da seringa para o seringueiro tirar o látex. “Se não fosse o toqueiro e o mateiro não tinha seringueiro porque éramos nós os responsáveis de fazer a limpeza da árvore”, relembra.

Além das dificuldades vividas no seringal, Antônio diz que já trabalhou sem receber salário durante cinco anos e foi ameaçado de morte pelo patrão em outro seringal. “Quando percebi que não ia receber, eu fui para outro seringal, mas infelizmente eu não tive sorte e fui ameaçado de morte pelo meu patrão porque ele não queria me pagar. Outras pessoas não tiveram a mesma sorte que eu e morreram”, conta o soldado da borracha.

Para não morrer de fome no seringal, o soldado da borracha tinha que comprar farinha e sal do próprio patrão para se alimentar na mata. Ele lembra também que trabalhava pelado por não ter roupas “A gente comprava farinha e sal do nosso patrão e nunca terminava de pagar porque era muito caro. Eu lembro muito que naquela época eu e os colegas trabalhávamos sem roupa e dormia em cima das borrachas porque não tinha onde dormir. Para o seringal eu não voltaria jamais”, diz.

Depois de muitos anos trabalhando no seringal e passando necessidades, o soldado da borracha finalmente conseguiu vir para Porto Velho, trabalhou em uma colônia e por lá casou com sua esposa com quem vive há mais de 45 anos. “No meu casamento eu tive cinco filhos e hoje já estão adultos e eu conto minha história de vida para eles, porque serve de aprendizado tudo que passei no seringal”, finaliza.

Seringueiros lembram trabalho de extração da borracha e falam sobre praça que os homenageia na Capital

A Praça dos Seringueiros
A Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Sema) está finalizando a construção da praça pública que vai homenagear os seringueiros que contribuíram para o desenvolvimento da Amazônia. O espaço chamado de “Praça dos Seringueiros” fica localizado na confluência das avenidas Amazonas com Nações Unidas.

De acordo com o secretário municipal do meio ambiente, Robson Damasceno, no local será instalado uma estátua em homenagem aos seringueiros que foi adquirida com recursos próprios do prefeito. “Essa estátua foi um presente do prefeito a esses guerreiros que merecem toda a homenagem. Tenho certeza que quando nossos seringueiros vão se emocionar ao olharem para estatua”, diz o secretário.

Outra novidade é a parada de ônibus, com melhor estrutura, para os usuários de transporte coletivo. “Essa será a primeira parada de referência da administração Hildon Chaves. O local estava precisando porque as pessoas ficavam em pé esperando o ônibus”, afirma Damasceno.

A obra no local incluiu retirada do lixo, pavimentação de toda a área, queda d’água, nivelamento, urbanização e paisagismo. Bueiros foram limpos e desentupidos para evitar alagamentos na região.

Todo o espaço terá objetos rústicos principalmente às luminárias típicas da época dos seringueiros. Serão instalados oito bancos, oito árvores para urbanizar o local e dar sombra para a população, quatro jardins e calçada com acessibilidade para deficientes e idosos.

A Praça dos Seringueiros será inaugurada nessa quinta-feira (8).
A Praça dos Seringueiros também foi toda iluminada pela Empresa de Desenvolvimento Urbano (Emdur), que utilizou lâmpadas de LED. A estátua também será iluminada de baixo para cima.

Para evitar furtos, estão sendo usados fios com quase nenhum valor comercial, e a estrutura é reforçada com concreto para dar mais segurança.

Seringueiros lembram trabalho de extração da borracha e falam sobre praça que os homenageia na Capital
Foto: Anderson Furlanetto/Facebook
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