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Servidores contam suas histórias de superação, famílias e casos inesquecíveis
Sábado, 28 Outubro de 2017 - 09:49 | da Redação
O funcionalismo público de Rondônia comemora neste sábado (28) o dia dedicado a eles. Pessoas que viram os filhos crescerem enquanto a carreira profissional evoluía em uma vida voltada para o serviço público. O RONDONIAGORA foi ouvir alguns deles.
Dona Elena Vaz Araújo, 59 anos, merendeira, conta como foi enfrentar os desafios de trabalhar na Escola Petrônio Barcelos, na capital, enquanto em casa ficavam os oito filhos menores. “Os mais velhos cuidavam dos mais novos. Muitas vezes tive que sair correndo daqui para ir atender a algum ocorrido com eles”, lembra.
Para entrar no quadro de servidores estaduais, há 27 anos, a merendeira fez o concurso de 1989, e foi chamada em 1990. Mas a mulher tinha apenas a terceira série do primário, e na época a “prova” foi uma entrevista com perguntas sobre conhecimentos básicos. “Eu passei e comecei a trabalhar. Minha vida foi aqui nessa cozinha. E comecei a estudar à noite, então entrava na escola de manhã e só saia depois que a aula acaba. Foi uma luta”, conta.
Os filhos cresceram, os gêmeos mais novos atualmente tem 25 anos de idade, e o filho mais velho já está com 40 anos. Com eles, dona Elena também cresceu. Concluiu o nível Médio, fez um curso de capacitação Pró Funcionário, e ainda três cursos de bibliotecária. “Naquele tempo que foram demitidos vários servidores, ficou o desfalque. Eu já sabia um pouco mais, porque estava estudando, então me colocaram para cuidar da biblioteca da escola. Aprendi muito”, conta orgulhosa.
Assim como a história de dona Elena, o servidor Francisco da Chagas de Oliveira, 54 anos, também enfrentou o concurso de 1989, e é técnico administrativo educacional. Sempre na mesma escola, chamado carinhosamente pelos colegas como Chiquinho, ele é inspetor, faz as cópias na máquina copiadora, e ajuda em tudo que a escola precisa.
Dediquei muito da minha vida à Educação. Se tivesse que escolher alguma coisa agora, seria a valorização da nossa categoria. Tenho direitos pendentes de licença prêmio e pecúnias que nunca consegui por burocracia do governo. Mas apesar dos pesares, sou feliz pela minha profissão e as mudanças são visíveis
Segundo Chiquinho, houve tempos difíceis. “A violência naquela época, das gangues, era muito pior de se controlar na escola. Hoje os meninos estão mais tranquilos, e de 20 anos para cá, as coisas mudaram muito”.
E de histórias de superação, dona Hilay Campos de Macedo, 64 anos, tem muito a contar. Ela é técnica de laboratório desde 1978, e trabalha no Instituto Médico Legal, em Porto Velho.
Já vi muita coisa ruim. No começo foi bastante difícil. Casos bastante tristes. Uma vez, um homem que havia sido esfaqueado veio para cá, e uma lombriga estava saindo pela barriga dele. Eu como trabalhava no laboratório tive que tirar. O homem foi assinado em uma mineração que existia na época, a Jacundá. Ele estava todo de preto, camisa de mangas longas, chapéu e bota. Eu olhava para ele e o medo me tomava. Mas tive que concluir o serviçoHilay lembra dos colegas, dr. Antônio Carlos, e dona Maria Viana - que até hoje ainda está na ativa aos 71 anos de idade, quando juntos montaram o laboratório do IML para começarem a trabalhar. Hoje a servidora está intercalando entre plantões no comissariado e no setor de sexologia. “São muitas lembranças. Sou grata pela minha história, meu trabalho e a condição que ele me proporcionou”, diz.
Já conhecido por muitos na capital, o técnico de Necropsia Josué Zetolis de Figueiredo, tem 57 anos de idade, sendo 27 deles dedicados ao trabalho. “Quando eu fiz o concurso já sabia o que eu teria que fazer, e como eu não tinha mais estudo, encarei com respeito a profissão que até hoje exerço e gosto de fazer. Trato todos de maneira igual”.
A média de cadáveres que Zetolis recolhe no rabecão por ano é de 250.
Faz as contas disso em 27 anos, e nas situações mais inusitadas que você puder imaginar. Já fui pegar um corpo às 3 horas da madrugada, no meio do mato, uma escuridão, e enquanto eu e o colega carregávamos o corpo na rede, escorregamos. Quase que eu também morria lá. Um toco afiado passou raspando de me perfurar a costela. Não era a minha hora.Das dificuldades para recolher defuntos, o técnico de Necropsia tem muito a contar. “Uma vez tivemos que andar, de onde o rabecão teve que parar, por 12 quilômetros até o local onde estava o corpo, e depois voltar toda essa distância até o carro carregando o defunto. Isso foi lá para as ‘bandas’ da BR-319. Ainda bem que tinha mais cinco bombeiros, um colega do IML e mais um parente para ajudar no revezamento”, revela.
Ele acredita que quando o carro quebra, nunca é em vão. “Já tive várias histórias de livramentos de acidentes, ou porque o carro quebrou ou porque tive que parar no caminho. Toda vez que saio falo com Deus: me leva e me traz em proteção e me ajuda a cumprir com o serviço que me propus a fazer”.
Terezinha Amorim, 50 anos, tem 20 anos de serviço público. Como auxiliar de enfermagem, a profissional diz que ama a profissão.
Passei no concurso de 1997. Logo que entrei ainda trabalhei dois meses no João Paulo II, mas depois fui transferida para o Fundação Hemeron e até hoje. Faço coleta de sangue, também o trabalho de triagem. Ajudar as pessoas sempre me encantou, e através da Saúde eu me sinto realizadaAntes de ser servidora, Terezinha já trabalhava na área desde 1986, em hospitais particulares. “Sempre me identifiquei, minha vida sempre foi trabalhar cuidando das pessoas”, completa.
Maria de Fátima Oliveira Vieira, tem 60 anos de idade e 37 anos de carreira como técnica de enfermagem.
Não me aposentei ainda porque não quero. Gosto de fazer isso, e para que eu deixaria de fazer meu trabalho? Para ficar sem nada para fazer? Nem pensar! O que eu mais gosto é da área da obstetrícia. Lá tem vida que se renova a cada dia, gosto de ver as crianças nascendo, é isso que faz sentido para mim. Vida