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A LIÇÃO QUE O PT NÃO APRENDE NO ACRE

Quarta-feira, 03 Novembro de 2010 - 11:01 | Altino Machado


Dos 11 estados onde José Serra (PSDB) venceu no segundo turno eleitoral, foi no Acre onde o tucano obteve a melhor votação - 69% contra 30% dos votos de Dilma Roussef (PT).

Serra venceu em 21 dos 22 municípios acreanos, incluindo Xapuri, considerado matriz do suposto ideário socioambiental do "governo da floresta". O tucano perdeu apenas em Feijó, que é uma das duas únicas cidades administradas pelo PSDB no Estado.

No primeiro turno, o senador Tião Viana (PT) viveu o sufoco de ser eleito governador com 50% do votos, contra 49% dos votos de Tião Bocalom (PSDB). Além disso, a cadeira da senadora Marina Silva (PV-AC) já está perdida e será ocupada pelo senador eleito Sérgio Petecão (PMN).

O Acre, que tem apenas 470.545 eleitores, é governado há 12 anos pela Frente Popular do Acre, uma coligação de 15 partidos liderada pelo PT.

- Precisamos entender o que levou o eleitorado do Acre a ter essa postura de hostilidade ao Lula e a Dilma – disse o secretário de Comunicação do governo do Acre Aníbal Diniz, suplente do senador Tião Viana.

A "hostilidade do eleitorado do Acre" não é contra o presidente Luís Inácio Lula da Silva nem contra a presidente eleita Dilma Roussef. A resposta do eleitorado acreano está sendo dada contra a maneira como o Acre vem sendo governado.

O diagnóstico tem sido dado e é constatado por quem vai para as ruas e anota num caderninho o que ouve: "o governo é perseguidor", "o governo cerceia a imprensa", "mente demais na propaganda", "o pessoal do governo é muito arrogante", "só tem vez no governo uma panelinha", "que manda mesmo é gente de fora", "acreano não tem vez".

Alguém pode até refutar com a alegação de que nada disso é verdade e que se trata de eco do discurso vazio da oposição. Não é. Quando a situação está realmente boa, não existe espaço para alguém dizer que está ruim. A prova disso é que começa a surgir perdedores porque a situação está realmente ruim e insistem em dizer que está boa.

O caso da mudança da hora legal do Acre serve para ilustrar isso. Para atender aos interesses das emissoras de TV, especialmente da Globo, o senador Tião Viana, sem consultar a população, apressou a aprovação de uma lei, sancionada pelo presidente Lula, reduzindo de duas para uma hora a diferença do fuso horário do Acre em relação à Brasília.

Se a população foi consultada, conforme afirmou Tião Viana nos últimos dois anos, por que o povo aproveitou o referendo neste domingo (31) para decretar o fim da mudança da hora legal do Acre?

A arrogância no Acre permanece apesar do resultado das urnas. Políticos e militantes da Frente Popular estão se valendo de seus meios de comunicação para debochar da decisão popular de apoio a José Serra e contra a mudança do fuso horário.

O sistema operacional Windows, da Microsoft, possui uma "máquina do tempo", mais conhecida como restauração do sistema. Quando alguma coisa horrível, como o vírus 55, por exemplo, abala o seu computador, é fácil voltar ao dia anterior. Ou ao dia antes dele. Ou ainda voltar à semana ou ao mês anterior. É um recurso pouco usado que pode salvar sua pele um dia.

Para que se possa restaurar o sistema é necessário que o recurso tenha sido habilitado pelo usuário, que pode criar os próprios pontos de restauração. Como nada é perfeito, saiba que o recurso é um devorador de espaço para quem quer estabelecer um calendário de restauração do sistema.

Resta saber se o painel de controles da Frente Popular do Acre habilitou ou não a restauração do sistema. Se habilitou, muito bem. Poderá tentar restaurar-se para um ponto sem perseguição, censura, propaganda enganosa, arrogância, panelinha, onde o povo acreano tenha realmente vez.

Mas a melhor avaliação continua sendo a de Marina Silva em entrevista ao portal Terra:

- Tem uma mensagem dada pelo povo acreano a nós da Frente Popular. Temos que ter humildade e sabedoria para fazer essa leitura. Sem humildade e sabedoria, vamos tentar arranjar algum meio para explicar ou consolar a forma enfática como a sociedade sinalizou, que não está tudo bem. Se a gente tentar se explicar ou se consolar dessa maneira, não vamos tirar a aprendizagem correta, ou seja, se não mudarmos o caminho, podemos mudar a maneira de caminhar. É preciso que a gente tenha uma abertura maior para a diversidade, para a crítica, para o processo, para dividir a autoria, a realização e o reconhecimento das coisas. Se a gente continuar pondo o talento de todos em apenas alguns, daqui a pouco cada um vai reivindicar o seu talento com justa razão ou vai colocar suas insígnias em outras lideranças que imaginam possam ser mais horizontais.

Tenho dito.

Destaque para o comentário do jornalista Luciano Martins Costa:

"Conheci o Acre no começo dos anos 80. Rio Branco não era propriamente uma cidade, a miséria era visível por todos os lados, meninas se ofereciam na porta do hotel, havia um caboclo que ficava sentado num banco de praça esperando encomendas. Matava segundo uma tabela que começava com "um salaro". Entrevistei alguns dos personagens mais asquerosos que tive o desprazer de conhecer em mais de trinta anos de carreira. Um deles era deputado federal eleito na base do voto comprado ou roubado, e se orgulhava disso. Era um dos lideres da UDR. Entre outras coisas, contou, orgulhoso, como fazia para enganar a fiscalização do Banco do Brasil e perpetuar os empréstimos da carteira agrícola. Voltei ao Acre algumas vezes e posso testemunhar a transformação que ocorreu. O Acre evoluiu um século em vinte anos. Visto com a lente do tempo e da distância, não há como não reconhecer o trabalho que foi feito pelo chamado "governo da floresta". Só mesmo muita incompetência política poderia fazer essa população esquecer quem foi que elaborou a política que a tirou do atraso e colocou o Acre no mapa do Brasil moderno. Ou os acreanos enlouqueceram?"

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