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Nem todos são biltres

Sexta-feira, 14 Março de 2014 - 09:43 | David Nogueira


Nem todos são biltres

O último dia 11 de março marcou o aniversário de três anos das trágicas mortes de Eduardo Valverde e Ely Bezerra. É um dia particularmente triste, e razões não faltam... assim, e para avivar um pouco a história, falaremos do homem político Valverde. Carioca da gema, como eu, eramos vizinho no animado subúrbio leopoldinense. Embora fôssemos da mesma idade, Dudu veio para Rondônia um pouco antes, salvo engano, no idos de 1983, para trabalhar na Eletronorte. Engajado na difícil luta da organização social, presidiu o Sindicato dos Urbanitários (SINDUR) entre os anos de 1986 e 1989. Na carência de lideranças, acumulou a presidência da CUT entre os anos de 1986 e 1994. Para quem não sabe, foi a partir da organização dos Urbanitários e dos Telefônicos que se construiu toda a base sindical dos servidores públicos na segunda metade dos anos 80.



2.    Generalizações burras

Quando se fala em políticos, há uma tendência natural e perigosa na generalização de comportamentos. Enganador, ladrão, safado, sem vergonha, pilantra, despudorado, vigarista, biltre e cafajeste são adjetivos, entre outros de baixa postura, que costumam povoar as mentes dos cidadãos comuns. Essa percepção, embora com algum fundamento, não deixa de ser injusta e cruel com uma parte deles. Alguns abnegados são responsáveis pelos pequenos avanços conquistados ao longo dos anos de luta e da pressão popular. Reflitamos um pouco: o sapeca e animado Congresso tupiniquim possui 513 Deputados Federais, os quais representam o povo brasileiro, e 81 senadores, representando os Estados da nação. Eles, pessoas escolhidas exclusivamente por você, são o reflexo das virtudes, da ética, da moral e das mazelas de nossa sociedade. Então, não desperdice xingamentos ao vento!!

3.    Histórias de vidas cruzadas... um “causo”!

Valverde era uma pessoa diferente, atuante, pronta para servir e fazer refletir: um parceiro nas lutas mais difíceis. Lembro-me de uma reunião marcada para o auditório do SINDUR, em Porto Velho, onde trataríamos de algumas questões difíceis de enfrentamento político. A reunião, marcada para 16h, já ia longe, quando foi cobrada a presença de Valverde, visando pequenos encaminhamentos necessários. Depois de muito tentar, consegui localizá-lo ao telefone. “Eduardo, estamos precisando de ti aqui no SINDUR. Onde estás? Vem para cá”. Ele não se fez de rogado, de forma tranquila, disse: “David, não se preocupe, vai tocando a reunião, que eu já estou chegando... Vai tocando!” Conformado com o seu atraso, eu já me preparava para desligar o telefone, quando perguntei: “Sim, Eduardo, onde você está?” Ele retrucou: “Não esquenta, vai tocando. Estou passando em Jaru e chego aí rapidinho!!!...”

4.    Senador Valverde era o Brasil que não foi

Eduardo Valverde tornou-se um dos principais personagens da história política da classe trabalhadora de Rondônia. Isso é, sem dúvida, um fato. Entretanto, poucos se lembram de um capítulo nacional bem particular. Em 29 de junho de 2001, Eduardo Valverde protagonizou um dos momentos de maior tensão no enfrentamento político ideológico entre oposição e o conturbado e complicado governo FHC. Com a cassação do mandato do ex-senador Ernandes Amorim (PPB), o TRE/RO diplomou Valverde Senador. No mesmo dia, em plena sexta feira, com o diploma em mãos, o contente barbudinho partiu para Brasília visando tomar posse como senador. Naquele momento, a sua posse significaria a fatídica 27ª assinatura (única que faltava) no requerimento para a abertura da tal CPI da Corrupção no Governo Fernando Henrique e o complexo processo das privatizações.

5.    Golpe. Jogo bruto e valores

A imensa estrutura do Governo Federal se movimentou no sentido de evitar a posse de Valverde como senador e, principalmente, a barulhenta assinatura de abertura da CPI. Toda a mídia nacional acompanhava o processo e os bastidores fervilhavam. Em menos de 24 horas, Nelson Jobim, no TSE, provocado por Matusalém, proferiu liminar cancelando a posse do Valverde. Foi uma aberração jurídica, um vergonhoso arranjo político para salvar, mais uma vez, o governo FHC de uma CPI reveladora. Se Valverde tivesse tomado posse como senador em 2001, a história de Rondônia seria outra... (A história do Brasil teria uma outra página... uma página anunciada, mas jamais escrita...)
Sintetizando, meu caro, filosofemos com Winston Churchill, “a democracia pode ter seus defeitos, mas não inventaram nada melhor para substitui-la. Quando tentaram, com o objetivo de sonegá-la à sociedade, resultou no stalinismo, no nazismo e no maoísmo”.
Por isso, Cara Pálida, não reclame dos políticos para mim. Afinal, opções boas existem... Questione as suas escolhas!!

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