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Nós não pensamos nisso!
Sexta-feira, 22 Novembro de 2013 - 09:27 | David Nogueira
Seja sincero comigo: você já passou fome alguma vez na sua vida? Estou falando de fome mesmo! Aquela em que, ao levantar-se, só existe a mais absoluta certeza de que não haverá nada para comer ou, na melhor das hipóteses, haverá uma nesga de algo bem pequeno, escasso e insuficiente para atender o roncar ensurdecedor do estômago. Falo daquela fome acompanhada de tristeza, de desânimo e de desesperança. Nesse círculo vicioso degenerativo da dignidade, a realidade tende a ser a mesma... cruelmente a mesma para si e para os a ladear. Você já passou por algo assim? Sentiu as dilacerações de tal realidade invadindo e destruindo o que resta de si a cada amanhecer? Acho que não... nem eu.
2. O passado com lacunas
Quando eu estava cursando a Universidade, lá pelas bandas do Rio de Janeiro, confesso haver faltado um pouco de pão em minha mesa. Morando sozinho, meu pai não ousava (e não podia tanto assim) colocar dinheiro em minhas carentes mãos. A sensação dos dias “magros” eram terríveis. Parece que o pensamento só caminhava em uma direção: comer. Isso vem a propósito de uma leitura feita sobre a realidade da África e o quanto nossa forma de gerenciar a sociedade precisa mudar. Na posse de seu primeiro governo, o ex-presidente falou algo que marcou muito, algo do tipo “se ao final do mandato, eu tiver acabado com a fome em meu país, terei realizado a missão de minha vida”. Muitos, que jamais passaram fome, não entenderam a amplitude dessa fala.
3. A fome existe
Segundo os dados da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), o planeta produz alimentos suficientes para suprir 12 bilhões de pessoas. Ora, a Terra, até ontem, antes desta acalorada noite, na qual bilhões de pernas se misturaram em saliências indescritíveis, possuíamos pouco mais de 7 bilhões de bocas. Então, o problema não é a quantidade, mas a forma, a localização, a produção e a distribuição da “boia”. Ainda assim, o que acontece na África choca. Pela fome, 300 mil somalis morreram só no ano de 92. Em 84, perto de 1 milhão morreu agonizando pela carência de comida na Etiópia. Em pleno terceiro milênio (em 2005), 5 milhões no Malauise desesperaram dentro desse flagelo em que vive a África subsaariana. Nos dias de hoje, aquela realidade ainda lá está.
4. Quadro caótico
Em sessenta anos, o número de habitantes do Continente Mãe saltou de 221 milhões de pessoas para mais de 850 milhões. Com toda aquela bagaceira, a população continua a crescer de maneira desordenada e caótica, anunciando quadros terríveis para o futuro não tão distante assim. A ONU, por intermédio da FAO, prevê a diminuição em 20% nos níveis de produção agrícola na região nos próximos 20 anos. As grandes secas não são motivo aceitável, pois os EUA, por exemplo, possuem regiões mais secas a produzir em abundância. A monocultura, a centralização da terra produtiva em mão estrangeira, a diminuição da força da agricultura familiar, as sanguinárias guerras pelo controle das riquezas naturais e as intermináveis lutas tribais são abastecidas de fora para dentro.
5. As escolhas políticas
Da mesma forma que acontece nos países organizados, aquela realidade, tenha certeza disso, é fruto da política. Necessitamos refletir consideravelmente no tipo de escolha política a ser feita e no tipo de valorização que estamos, de fato, dispostos a dar na formação da juventude da nação. O Brasil precisa crescer e, nos dias de hoje, ousa buscar as oportunidades que o mundo oferece. Nossa aproximação com a África é vital para a nossa construção de futuro, porém ela deve ser solidificada em patamares que permitam a todos o direito de dias melhores. A África é um mundo de oportunidades, e eu espero lá ver, com todos os seus problemas, o avanço da democracia, o fim da fome, a estabilidade política consolidada e a paz respeitada. Para isso, as escolhas (sempre elas) serão determinantes...