Geral
Alagação no Acre
Terça-feira, 28 Fevereiro de 2012 - 14:30 | Vladimir Polízio Júnior
Vivi por quatro anos em Rio Branco, capital do Acre. E no início de cada ano sempre o rio sobe, inundando um longo trecho que deveria ser área de preservação permanente mas que, por conta dos desgovernos que se sucedem naquele estado, recebem cada vez mais pessoas desafortunadas da própria sorte, que com as enchentes perdem o pouco que tem. O problema, aliás, não se limita à capital, pois no interior as cenas de desolação são ainda piores.
As cheias deste ano se mostraram mais nefastas que a conhecida cheia de 1997. A cidade de Brasiléia, por exemplo, que faz fronteira com a Bolívia, teve 95% de sua área tomada pelas águas. Eu não errei na porcentagem: quase a totalidade do município foi tomada pelas águas. E quais as medidas adotadas pelas autoridades? Bem, a mais absurda foi a mantença do carnaval em Rio Branco, que custou R$ 3 milhões, enquanto grande parte da capital estava sob as águas. Interessante que, com a festa popular, a polícia foi deslocada para proteger os foliões, mas como não combinaram com os bandidos que não deveriam realizar saques nas casas quase submersas dos bairros ribeirinhos, muitos pobres ficaram ainda mais pobres, porque os criminosos agiam com a sensação de impunidade, à frente de todos. Outra cena seria cômica não fosse a tragédia que anunciava: nas ruas, enquanto alguns iam fantasiados se divertir no carnaval, outros carregavam suas tralhas e caminhavam em romaria para abrigos coletivos.
Como isso acontece longe dos grandes centros, a divulgação desses fatos pela imprensa é sutil, e a possibilidade de que tudo continue como está é imensa. Ora, muitos municípios do Acre estão em regiões de planície, e as ruas das cidades por vezes ficam ziguezagueando os rios. Evidente que quando da época das cheias os rios sobem e atingem áreas consideráveis. Porque não estabelecer um plano estratégico de prevenção contra essas tragédias anunciadas? Será que em plena Amazônia não haveria local seguro para a construção de cidades que não fossem tomadas pelas águas? A só aplicação da área de preservação nas margens dos cursos dágua, previstas pelo Código Florestal, já reduziria em muito essa situação absurda sofrida pela população de um estado onde o governo se diz defensor da floresta e se orgulha de ligar o Brasil ao Pacífico com uma versão moderna de transamazônica. Porque não basta proteger as matas ou construir uma rodovia deserta sem cuidar das pessoas que lá vivem. Governos existem para isso.
Vladimir Polízio Júnior, 41 anos, é defensor público (vladimirpolizio@gmail.com)
As cheias deste ano se mostraram mais nefastas que a conhecida cheia de 1997. A cidade de Brasiléia, por exemplo, que faz fronteira com a Bolívia, teve 95% de sua área tomada pelas águas. Eu não errei na porcentagem: quase a totalidade do município foi tomada pelas águas. E quais as medidas adotadas pelas autoridades? Bem, a mais absurda foi a mantença do carnaval em Rio Branco, que custou R$ 3 milhões, enquanto grande parte da capital estava sob as águas. Interessante que, com a festa popular, a polícia foi deslocada para proteger os foliões, mas como não combinaram com os bandidos que não deveriam realizar saques nas casas quase submersas dos bairros ribeirinhos, muitos pobres ficaram ainda mais pobres, porque os criminosos agiam com a sensação de impunidade, à frente de todos. Outra cena seria cômica não fosse a tragédia que anunciava: nas ruas, enquanto alguns iam fantasiados se divertir no carnaval, outros carregavam suas tralhas e caminhavam em romaria para abrigos coletivos.
Como isso acontece longe dos grandes centros, a divulgação desses fatos pela imprensa é sutil, e a possibilidade de que tudo continue como está é imensa. Ora, muitos municípios do Acre estão em regiões de planície, e as ruas das cidades por vezes ficam ziguezagueando os rios. Evidente que quando da época das cheias os rios sobem e atingem áreas consideráveis. Porque não estabelecer um plano estratégico de prevenção contra essas tragédias anunciadas? Será que em plena Amazônia não haveria local seguro para a construção de cidades que não fossem tomadas pelas águas? A só aplicação da área de preservação nas margens dos cursos dágua, previstas pelo Código Florestal, já reduziria em muito essa situação absurda sofrida pela população de um estado onde o governo se diz defensor da floresta e se orgulha de ligar o Brasil ao Pacífico com uma versão moderna de transamazônica. Porque não basta proteger as matas ou construir uma rodovia deserta sem cuidar das pessoas que lá vivem. Governos existem para isso.
Vladimir Polízio Júnior, 41 anos, é defensor público (vladimirpolizio@gmail.com)