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MAIS DE 2,5 MIL FAMÍLIAS JÁ DEIXARAM RESIDÊNCIAS
Domingo, 23 Março de 2014 - 11:40 | RONDONIAGORA
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Nível do Madeira se mantém acima de 19,40 metros; Governo concorda com decreto de calamidade, mas ainda não mandou recursos
Texto e fotos: Vanessa Farias
Desde o início do mês de fevereiro, quando as chuvas se intensificaram em todo o Estado, o nível do Rio Madeira subiu uma escala assustadora, se mantendo neste domingo em 19,45 metros. Uma enchente jamais registrada na história em Porto Velho, atingindo Médio e Baixo Madeira, os municípios de Guajará Mirim, Nova Mamoré, e o eixo da Br-364 que abrange os distritos de Abunã, Jaci-Paraná e Fortaleza do Abunã.
Uma portaria da Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil do Ministério da Integração Nacional foi publicada na última segunda-feira (17) no Diário Oficial da União, decretando estado de calamidade em Porto Velho, mas nenhum centavo havia chegado aos cofres públicos da Capital até a última quinta-feira (20). De acordo com relatório fornecido pela Defesa Civil Estadual na última quinta-feira (13), o número de atingidos pela enchente do Rio Madeira na Capital é de 1.437 famílias, sendo que 302 delas estão desabrigadas, e 1.084 famílias desalojadas.
As famílias desabrigadas são as que foram retiradas pelo Poder Público de suas residências atingidas e encaminhadas para abrigos públicos, como escolas, igrejas e ginásios. Já os desalojados são aqueles que por conta própria saíram de suas casas e foram para casa de parentes ou outras opções.
No Médio e Baixo Madeira, abrangendo os distritos de Niterói, Nazaré, Curicacas, Papagaios, Lago do Cuniã, Calama e São Carlos, o total de desabrigados é de 391 famílias, o mesmo número de desalojados. Ainda segundo o relatório da Defesa Civil, as necessidades das famílias, como alimentação, água e vestimentas, além do atendimento móvel de saúde, estão sendo providenciadas pelo município e pelo Estado conforme solicitações.
Atingidos em Guajará, Mamoré e na BR-364
Ao longo da BR-364, o relatório dá conta de 60 famílias desabrigadas e 143 desalojadas. O total de afetados, soma-se 203 afetados pela enchente. No município de Nova Mamoré, onde foram realizadas operações de retirada das vítimas pelo Exército, são 15 famílias desabrigadas e 41 famílias desalojadas. Em Guajará-Mirim, não há registro de famílias desabrigadas ou desalojadas, mas 50 casas foram danificadas, e 50 estivadores foram afetados pela alagação.
Até a última segunda-feira (17), o total de afetados pela enchente é de 2.478 famílias, sendo que 779 receberam o encaminhamento para abrigos e 1.699 famílias saíram por conta própria das casas atingidas. O nível do rio na quinta-feira (20) era de 19,34m.
Drama das famílias sem expectativa de retorno
Não é preciso ir muito longe do centro da cidade de Porto Velho para conhecer histórias de famílias atingidas pela enchente. Famílias que não têm expectativas de quando voltarão para suas casas e quais serão os prejuízos que ainda terão que enfrentar. Vanderson Cardoso morava com o filho e a esposa, Valdízia de Souza Lopes, em uma pequena casa na baixada do bairro Arigolândia, região central da Capital.
Na mesma residência, mais oito pessoas, familiares de Valdízia, dividiam o espaço há mais de 10 anos. A família se mudou do distrito de Cuniã e se alojou na região onde, nas proximidades, outros parentes já residiam. “A casa está localizada a mais de 30 metros da margem do rio em níveis normais, e o assoalho tem uma altura de dois metros do terreno, e mesmo assim, tivemos que sair quando a água começou a entrar”, explicou Vanderson. “Ainda não contabilizamos o prejuízos materiais. Faremos isso quando a água baixar”, completou. A família de Vanderson, esposa e filho, está alojada na casa de parentes, na parte alta do bairro. Os demais também procuraram abrigo familiar.
Outras sete casas próximas à residência de Vanderson Cardoso já foram completamente tomadas pela enchente. O tio de Valdízia, Mabel Ferreira Lopes, 60 anos, chegou de Cuniã há 15 dias, e se deparou com a situação calamitosa da família. “Vim passar uns dias enquanto resolvo problemas pessoais na cidade, e quando cheguei já faltavam uns 20 centímetros para a água entrar na casa. É muito triste tudo isso, uma situação precária. Nem meu pai, que tem 89 anos de idade nunca viu enchente como esta”, lamenta.
Além da cheia, atingidos tem casas roubadas
Além de perder praticamente tudo com a cheia e depender de parentes e dos organismos sociais da Prefeitura de Porto Velho e Governo para abrigar suas famílias, os atingidos pelas cheias também são obrigados a enfrentar um outro problema. Há vários casos de arrombamentos às casas, mesmo fechadas e inundadas, na região central de Porto Velho. Uma comerciante, entrevistada para a GloboNews na última quinta-feira (20), relatou o drama de ter perdido o pouco que conseguiu salvar da cheia para os arrombadores. “Chegaram de barco e levaram o que nós tínhamos”, explicou ela a reportagem. Outro problema detectado é a grande quantidade de animais domésticos deixados para trás e a grande mortandade de peixes. Na última quarta-feira (19), o internauta Géri Anderson publicou nas redes sociais a foto de filhos de Jaú morrendo na Avenida 7 de Setembro próximo da Prudente de Morais.