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Ou paga ou é linchado. Mas poderia ser também: acobertando a impunidade Por Luis Honório Rodrigues Aquino
Quinta-feira, 03 Março de 2011 - 09:20 | Luis Honório Rodrigues Aquino
Um dos caminhos que levam à minha casa passa por uma área invadida no bairro Marcos Freire. Hoje quando passava por lá, observei que muitas ligações de energia elétrica clandestinas (chamados 'gatos') estavam danificadas, com os fios caídos no chão. Um pouco mais adiante estava um caminhão baú de mudanças parado no meio da rua estreita e cercado por alguns moradores da invasão, sendo que um deles conversava com o motorista. Como a posição do caminhão impedia que eu prosseguisse, fiquei esperando que o pessoal "se mancasse" e me desse passagem. Esperei um pouco e como não houvesse sinal de que alguém se preocupasse com minha situação, desliguei o motor e me dirigi até o motorista do caminhão. "Como é meu irmão, vou ter de esperar muito?" Perguntei. Notei que ele estava entregando umas notas de dinheiro ao que falava com ele, ele interrompeu a conversa e me disse que já ia tirar o caminhão, que eu esperasse um pouco que ele estava resolvendo um probleminha. Aí a minha ficha caiu; como o caminhão era alto, havia sido ele que derrubara os "gatos" e agora os populares estavam cobrando o prejuízo... Pouco depois os moradores se afastaram e o motorista manobrou o caminhão para me dar passagem. Ao passar por ele, parei e perguntei se minha suposição estava certa e ele confirmou.
Comentei que aquelas ligações eram clandestinas e completamente fora do padrão, que a culpa não era dele e que ele poderia ter simplesmente seguido em frente. "Mas aí o pessoal me lincha", falou ele, "até a polícia me deu uma pressão e me intimidou". Senti um certo arrepio quando me dei conta que eu passo quase todo dia por ali, minha mulher passa pelo caminho quatro vezes por dia sendo duas tarde da noite para levar e buscar nossos filhos no ponto de ônibus; o lugar é de gente perigosa... São pessoas que invadiram terrenos alheios e se apossaram do lugar, descaradamente puxam fios da rede elétrica para as casas, não pagam impostos, não pagam a energia e se sentem no direito de intimidar quem passa por ali.
Pelo que se deduz, poucos são os que realmente trabalham (eram três horas da tarde e havia muitos homens ali que deveriam estar no trabalho). Pior, acionam a polícia e esta lhes dá suporte (já publiquei um artigo neste espaço contando que um proprietário foi preso ao tentar impedir que invadissem sua área).
Falando sobre os tais "gatos", são rabichos de fio inapropriados, às vezes (pasmem) até mesmo arame farpado, que são puxados sem qualquer cuidado ou dimensionamento de algum transformador nas vizinhanças. Chegam a ter mais de uma centena de metros desde a origem até a casa. Os postes, se assim podem ser chamados, são simples caibros de madeira eu não atingem mais que três metros de altura onde se pode ver um emaranhado de fios que cada um vai adaptando conforme suas necessidades.
Qualquer veículo de transporte que seja um pouco mais alto tem dificuldade para transitar. Fica aqui minha pergunta à velha CERON (que agora já até mudou de nome e usa um call center situado no RJ para atender (?) nossas reclamações). Como fica todo esse consumo roubado? Eu pago caro pela energia que uso, um dos fatores desse preço alto é a demanda sem retorno que a companhia sofre, dessa forma, quem paga os "gatos" é a população trabalhadora e honesta. Cadê os tais fiscais que, com alarde e pompa são anunciados nos out doors, na tv e nas viaturas da companhia, onde estão eles? Será que a CERON não pode desligar os "gatos"? essa ação até mesmo contribuiria para coibir as invasões porque sem energia ficaria mais difícil alguém ocupar uma área para morar. Pena que nossa terra tão boa esteja se transformando em um lugar que facilita a vida de gente que não tem compromisso com a cidadania, que ocupa a terra sem o mínimo respeito por ela e pelos outros moradores, que vive para si sem se importar com os direitos do outro, reivindicando direitos que não possui sem pensar nos deveres, esses sim reais.
O autor é militar da reserva e professor da rede pública estadual.
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