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À minha amada maltrapilha - Por Ivonete Gomes

Sábado, 25 Janeiro de 2014 - 11:42 | Ivonete Gomes


À minha amada maltrapilha - Por Ivonete Gomes

Quanta pretensão! Pensei em escrever um poema em homenagem à minha amada terra natal. Busquei estímulo na Estrada de Ferro Madeira Mamoré, vaguei nas lembranças das viagens de trem até a cachoeira de Santo Antônio, mas me deparei com a realidade de que nada mais existe. A despeito das promessas eleitoreiras de todo pleito, há somente a praça mal cuidada, vagões da Mad Maria abrigando viciados e galpões a caminho da completa deterioração.


“Quem sabe nossa cultura, nossas tradições e nossos eventos tragam-me os adjetivos necessários para homenagear a terrinha?”- perguntei a mim mesma. Novamente veio a desilusão. Hoje, temos somente o encontro de poucos ativistas no Mercado Cultural, um Flor do Maracujá desmilinguido que de junho passou para setembro e o Tico do Sesc tentando animar as famílias que buscam um pouco de felicidade e boa comida na Feira do Porto.
Deu-me certo entusiasmo rememorar os encontros com os amigos ao pé das Três Marias, a tapioca e o pão com carne moída do Mercado Central, o Prédio do Relógio e tantos outros pontos marcantes de Porto Velho, mas, novamente o ímpeto de escrever frases bonitas foi contido. Todos eles estão cercados do desencanto oriundo de completo abandono ou falta de zelo. Veio-me a imagem do pôr do sol no Madeira, mas vê-lo de onde? Nossos mirantes, outrora pontos turísticos, estão condenados.
“Quem sabe nossa cultura, nossas tradições e nossos eventos tragam-me os adjetivos necessários para homenagear a terrinha?”- perguntei a mim mesma. Novamente veio a desilusão. Hoje, temos somente o encontro de poucos ativistas no Mercado Cultural, um Flor do Maracujá desmilinguido que de junho passou para setembro e o Tico do Sesc tentando animar as famílias que buscam um pouco de felicidade e boa comida na Feira do Porto.

Não encontrei inspiração para um poema. Pior. Essa busca revelou um sentimento devastador que mistura desapontamento e vergonha. Lembrei-me da curiosidade de um falante taxista paulistano sobre como é a cidade de Porto Velho e minha dúvida entre mentir, citando qualidades inexistentes, ou falar a verdade. Optei pela sinceridade: - “fico triste em dizer, mas minha cidade é feia e suja”. Coloquei um ponto final na resposta, mas, convenhamos, a objetividade da resposta está longe da dura realidade da capital de Rondônia. Porto Velho - no meio da selva Amazônica - é uma das cidades menos arborizadas do Brasil; tem o pior terminal rodoviário, ruas esburacadas, obras inacabadas, sujeira e lixo por todo lado. É lama no inverno e poeira no verão. Nem vamos nos aprofundar em deficiências nas áreas de saúde, educação, transporte, esporte e lazer.

Nós, portovelhenses, pagamos um preço muito alto pelas más escolhas, entre elas concordarmos com a vinda de empreendimentos com falsa promessa de desenvolvimento. Colhemos também frutos do comodismo, da inércia e da cegueira.

Vivemos o antagonismo de crescimento e retrocesso, de fé e desesperança, de ódio e amor profundo por essa maltrapilha cidade. Chegando ao primeiro centenário, Porto Velho é um município carente de tudo, principalmente do básico.

Sem qualquer aprofundamento dos porquês dessa situação tão vexatória a todos que nasceram ou aqui estão para viver, vamos somente renovar a esperança de dias melhores e torcer para que os motivos da falta de inspiração para um poema sejam suficientes à conscientização de nossos representantes. Que esses senhores em quem confiamos nosso voto saibam que, definitivamente, o cálice transbordou. Não podemos mais esperar.

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