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Informando sobre a Pesquisa Cientifica em Rondônia
Quarta-feira, 27 Março de 2013 - 11:16 | Ederson Rodinei
Garimpo de ouro no rio Madeira não é o único vilão para contribuição do mercúrio
Coordenador do Laboratório de Biogeoquímica da UNIR diz que desde 1987 se estuda a questão do mercúrio no rio Madeira
O mercúrio é um elemento que esteve muito presente principalmente na década de 70 a 80 no auge do garimpo no rio Madeira, garimpo este com importante papel no processo de formação do Estado de Rondônia. Vamos entender um pouco mais desse elemento com o Coordenador do Laboratório de Biogeoquímica da UNIR que diz que desde 1987 se estuda a questão do mercúrio no rio Madeira. O que é o mercúrio? (símbolo químico Hg - vem do latim "hydrargyrum" que significa prata líquida) é um elemento químico que tem diferentes usos na vida “moderna”, a exemplo da indústria eletro-eletrônica e também no garimpo de ouro da Amazônia. É o metal pesado (metal pesado = elementos químicos com densidade acima de 5g/mL) mais estudado no mundo. Do ponto de vista bioquímico, não é um elemento essencial no metabolismo dos organismos vivos, portanto é um elemento químico que os seres vivos toleram até uma determinada concentração até a manifestação de sua toxicidade.
Sua forma química cientificamente reconhecida como mais tóxica é o metil-mercúrio (molécula organo-metálica), por possuir característica em se solubilizar em gorduras e, consequentemente, grande capacidade em se acumular nos tecidos (processo chamado de bioacumulação). As formas de contaminação dos seres humanos são via a inalação dos vapores de mercúrio (p.ex. quando se queima o almálgama ou azougue) ou consumo de pescado contaminado.
O Garimpo de ouro no rio Madeira tem uma grande contribuição nos lançamentos de mercúrio para essa bacia hidrográfica. No entanto, não é o único vilão, pois atualmente a ocupação desordenada com desmatamento desenfreado na região, principalmente das matas ciliares, contribui expressivamente com lançamentos de solos que contêm mercúrio “natural” para dentro dos corpos d´águas. Esse mercúrio “natural” é de nível baixo e é proveniente da formação dos solos da região somado a deposição atmosférica ao de centenas de dezenas de anos. A fundamental questão é a transformação química desse mercúrio (vindo do garimpo ou de origem natural) em metil-mercúrio que ocorre, preferencialmente, dentro dos cursos d´água e que, posteriormente, se incorpora nos organismos.
Histórico
Laboratório de Biogeoquímica Ambiental Wolfgang C. Pfeiffer/UNIR.
Coordenação: Prof. Dr. Wanderley R. Bastos.
O Laboratório de Biogeoquímica Ambiental WCP/UNIR foi inaugurado em 1994 com o apoio financeiro da União Européia e técnico-científico do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IBCCF/UFRJ) em conjunto com o Departamento de Geoquímica da Universidade Federal Fluminense (DG/UFF - Prof. Dr. Luiz Drude de Lacerda) com objetivos de alavancar os estudos com mercúrio na bacia hidrográfica do Rio Madeira. Em março de 2000 o laboratório foi ampliado, via financiamentos CNPq, para estudar os contaminantes ambientais a partir de convênios estabelecidos com o Instituto de Criminalística de Rondônia e com outras universidades (UFRJ, UENF, UFC, UnB, UFPR, UERJ, Universidade de Aveiro-Portugal). Atualmente, o referido laboratório vem desenvolvendo projetos na área de impacto ambiental e avaliação humana no que diz respeitos a poluentes inorgânicos (metais pesados) e orgânicos (herbicidas, pesticidas, agrotóxicos em geral), a exemplo do mercúrio e DDT e, dando suporte técnico-científico em avaliações de perícia ambiental e criminal, além de estudos ecotoxicológicos. Os estudos em desenvolvimento enfocam temas de elevada importância para a região Amazônica uma vez que os compartimentos propostos para estudo subsidiam os órgãos ambientais e de saúde pública, fornecendo informações das áreas e populações potencialmente críticas à exposição por estes poluentes. A transferência de conhecimento para alunos da graduação e pós-graduação na formação acadêmica e inserção na ciência são os principais objetivos deste grupo de pesquisa.
Atualmente, o grupo está composto de 4 professores efetivos (3 doutores e 1 mestre); 2 pesquisadores pós-doutorandos; 15 alunos de iniciação científica; 6 alunos de mestrado; 4 alunos de doutorado (2 finalizando e 2 iniciando, todos pelo IBCCF/UFRJ). O LABIOGEOQ possui uma área de cerca de 200m2 e os principais equipamentos são: 2 Espectrofotômetros de absorção atômica de chama (GBC-Avanta e AA-400 Perkin-Elmer); 2 Flow injection mercury system (FIMS-400, Perkin Elmer); cromatográfo gasoso (CG-FID, Varian); cromatórgrafo gasoso acoplado ao espectrofotômetro de massa (CG-MS, Thermo); cromatógrafo gasoso acoplado a espectrofotômetro de fluorescência atômica (Brooks Rand); cromatógrafo de íons (Metrohm); equipamento de campo para medidas físico-químicas; receptores GPS e GPS geodésico.
O Entrevistado
Dando retorno da pesquisa para a Comunidade Ribeirinha do Lago do Puruzinho/ Estado do Amazonas.
Wanderley Rodrigues Bastos é Graduado em Ciências Biológicas pela Fundação Técnico Educacional Souza Marques-RJ (1986), tem mestrado (1997) e doutorado (2004) em Ciências Biológicas (Biofísica Ambiental) no Instituto de Biofísica Carlos Filho da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Atualmente é Professor Adjunto IV pelo Departamento de Biologia da Universidade Federal de Rondônia; Coordenador do Laboratório de Biogeoquímica Ambiental Wolfgang Christian Pfeiffer desde 1999. Coordenou de 2007 a 2009 a Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente da Universidade Federal de Rondônia. Atuou como chefe do Departamento de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Rondônia 2010/2012. Integra o Corpo Docente dos quadros Permanentes das Pós-Graduações em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente (desde 2004) e da Rede de Biodiversidade e Biotecnologia da Amazônia Legal (desde 2010), ambos na Universidade Federal de Rondônia. É colaborador-visitante na Pós-Graduação em Biofísica (Biofísica Ambiental – desde 2006) do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho da UFRJ.
Entrevista
Como se encontra a produção cientifica em pesquisa em Rondônia na sua área?
Quando se está iniciando o GOOGLE é o caminho. Mais especificamente o GOOGLE ACADÊMICO afunila a sua busca. O importante é ser feliz na combinação das palavras chave. Embora um pouco desatualizado nosso site fornece várias informações, assim como os pdf da produção científica do Grupo. Acesse: www.biogeoquimica.unir.br ou não hesite em nos consultar pelo email: bastoswr@unir.br . Além disso, a CAPES via seu site www.periodicos.capes.gov.br fornece uma infinidade de Revistas Científicas Nacional e Internacionais que apresentam o que de mais recente está sendo publicado em diversas áreas. No entanto, neste ultimo caso, a obtenção dos artigos científicos só serão obtidos na integra em acessando o referido site nas instalações das Universidades Públicas Brasileiras. O Governo Brasileiro investe milhões anualmente para garantir esse acesso.
Como melhorar essa produtividade cientifica nas Universidades Publicas e Particulares ou fora delas?
Em algumas áreas melhorou bastante e o acesso livre aos Periódicos CAPES tem uma grande contribuição. As Universidade Públicas precisam melhorar muito suas infra-estruturas. As Universidades Amazônicas necessitam, com apoio/incentivo do Governo Federal, de investir na formação com qualidade dos amazônicos, trazendo grandes expoentes da ciência brasileira e internacional para as visitas de transferência de conhecimento. O Ciências Sem Fronteiras creio ser um caminho. As Particulares precisam investir em pesquisas, caso contrário, não poderão contribuir na Produtividade Científica do País.
Como dizia o Grande Prof. Carlos Chagas Filho que mesmo beirando os 90 anos e em cadeira de rodas ia semanalmente ao seu trabalho de pesquisador no Instituto de Biofísica que tem o seu nome (UFRJ).....na Universidade se ensina porque se pesquisa....(Carlos Chagas – 1910-2000).
Qual a maior dificuldade encontrada pelo laboratório de Biogeoquímica desde seu inicio?
No início tudo é difícil. E a participação de muitos também é fundamental para se conquistar vitórias. O pontapé inicial fora dado pelo Prof. Ene Glória que em 1994 inaugurou o Laboratório de Geoquímica que 6 anos depois agregou a Bio, se transformando no Laboratório de Biogeoquímica Ambiental. Até final dos anos 90 tudo era mais difícil, pois poucos eram doutores na UNIR e não se tinham Editais que financiavam projetos de pesquisas para mestres. A partir de 2002 os editais para financiamentos de pesquisas na Região Amazônica, emitidos pela CAPES e CNPq, começaram a oferecer percentuais específicos para a região Norte. A partir de então o Grupo Biogeoquímica aprovou projetos importantes que alavançaram as pesquisas do grupo culminando na formação de vários alunos de mestrado e de doutorado.
Qual a importância de incentivar a pesquisa na Base do Ensino Publico?
É importante ou não é necessário? Muito importante. Quem não ficava/fica feliz quando o professor fazia/faz qualquer experimento em sala de aula???!!!! Por mais simples que fosse a demonstração a atenção dos alunos era/é ampliada. A iniciativa do CNPq em disponibilizar Bolsas de Iniciação Científica Junior (específica para aluno do ensino médio) é incentivadora e frutos têm sido colhidos. Precisamos ampliar essa iniciativa na perspectiva regional, via as FAPs (Fundações de Amparo a Pesquisa Estaduais).
Existe dificuldade de compra de materiais para pesquisa mesmo com o dinheiro?
Aqui em Rondônia ainda sim. Dificuldade maior ainda na manutenção de equipamentos. Os problemas na instabilidade da energia elétrica da região trazem sérios danos aos sensíveis equipamentos de pesquisa.
A agilização e desburocratização da aquisição de importação de materiais para pesquisa faz diferença no resultado?
Sim. Recentemente o Deputado Federal Romário, isso mesmo Romário o craque da seleção de 94, submeteu um Projeto ao Congresso Nacional com objetivos de eliminar essa burocrata demora na importação de materiais/equipamentos para a pesquisa brasileira. Ela emperra o avanço da Ciência e Tecnologia brasileira, que em algumas áreas lidera nos avanços como as pesquisas no uso de células troncos nos problemas cardíacos (UERJ) e dos acidentes vasculares cerebrais (UFRJ). O Baixinho está driblando e em vias de marcar mais um gol.....
Você foi professor no Curso de Medicina na UNIR?
Sim. De 2002 a 2004 se não me engano. Na oportunidade ministrei a disciplina biofísica. Posteriormente, em acordo com a coordenação do departamento de medicina, solicitei transferência para o departamento de biologia por estar mais de acordo com minha área de formação. Atualmente ministro na graduação do curso de Biologia as disciplinas: Biofísica; Tópicos em Ecologia; Limnologia. E nas Pós-Graduações (Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente; Rede Bionorte) sou responsável pelas disciplinas: Monitoramento Ambiental; Biogeoquímica de Poluentes metálicos e orgânicos; Seminários em Biodiversidade.
Como você esta vendo a fiscalização dos laboratórios da UNIR?
Acompanhei pela mídia. Esses são problemas comuns em todas as universidades federais e também estaduais brasileiras. O que não significa que não devam ser tratados/denunciados pelos usuários. Não é fácil manter uma estrutura laboratorial funcionante, seja como laboratório de ensino ou de pesquisa, principalmente quando se tem: poucos recursos liberados; desembolsos demoradíssimos; processos licitatórios complicadíssimos para aquisição de equipamentos/materiais de consumo; poucos ou nenhum funcionários/técnicos administrativos e de laboratório; sem deixar de falar da falta de compromisso de alguns; dentre outros.
Saiba Mais
Da atual pesquisa que desenvolve com os estudos na área de:
Biofísica Ambiental; Biogeoquímica de poluentes metálicos e orgânicos e Ecotoxicologia na Bacia do Rio Madeira (Amazônia). Projetos em Andamento:
Programa de Monitoramento da Hidrobiogeoquímica de mercúrio e outros metais pesados no Rio Madeira. (2012-2014).
O Papel do Metabolismo Aquático para as Emissões de Gases (CO2 e CH4) e os Processos de Biomagnificação do Mercúrio e Compostos Orgânicos por Lagos Naturais e Reservatórios da Amazônia. (2012 – 2015).
Aspectos Bioquímicos e Limnológicos Relevantes na Bioacumulação de Mercúrio (HgI, MeHg) e Selênio em macrófitas (Oryza ssp.) na Amazônia Ocidental. (2012 – 2014).
www.biogeoquimica.unir.br
www.periodicos.capes.gov.br