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Rondônia: um novo Eldorado?
Sábado, 27 Abril de 2019 - 11:23 | por José Felinto*
O ano é 1966 e o presidente Castelo Branco discursa com o imperativo de “Integrar para não Entregar”, referia-se a Amazônia, um rincão de imensas riquezas naturais, porém, inabitado e quase inacessível, dada a precariedade das vias de acesso por terra.
O Brasil encontrava-se imerso na ditadura militar e, a partir de 1967, o Brasil é tomado por grandes obras de infraestrutura que ficaram conhecidas como obras faraônicas, dada a sua grandeza e importância para o desenvolvimento do Brasil. Transamazônica, Angra 1, 2 e 3, Ponte Rio Niterói, Tucuruí, Balbina, Itaipú e Perimetal Norte são alguns dos exemplos que evidenciam claramente a afirmação que o progresso costuma ter custos políticos, sociais e principalmente ambientais.
O Brasil das décadas de 1960, 1970 e 1980 é uma chaleira em ebulição, muita coisa vai bem, muita coisa vai mal, face à crise internacional do petróleo os militares criaram o álcool, com subsídios para os produtores de cana, permitindo que o Brasil ficasse ao lado dos Estados Unidos na produção de etanol. As hidrelétricas – algumas desastrosas, vide Balbina –, criaram reservatórios de dimensões extremadas gerando graves impactos ambientais e desalojando comunidades indígenas, Angra é uma ode à ineficiência à corrupção e à prevaricação e a Transamazônica que não liga nada a lugar nenhum.
É nesse contexto no qual o Brasil está inserido que surgirá o Estado de Rondônia. Surge não necessariamente em razão ou função dos fatos acima citados, mas principalmente pelas consequências geradas por eles na região sul e sudeste e Rondônia será a válvula de escape para onde deverá ser canalizada a população que não consegue se inserir quer seja no campo quer seja na cidade.
Ao longo dos séculos a região Norte do Brasil sempre atendeu aos interesses externos e/ou de outras regiões do país. Foi assim com a retirada das drogas do sertão nos séculos XVI e XVII, com a retirada do ouro no século XVIII, o I Ciclo da Borracha no Século XIX e o II Ciclo da Borracha no século XX. Em razão desse último citado foi criado o Território Federal do Guaporé em 1943, período em que Getúlio Vargas governava o Brasil sob a égide do Estado Novo. Passaram apenas 13 anos e o recém-criado Território recebe o nome de Rondônia, em homenagem ao sertanista Cândido Mariano da Silva Rondon.
A segunda metade do século XX intensifica a disseminação da modernidade no Brasil como a indústria automobilística, abertura de estradas, construção de hidrelétricas e impulsão à siderurgia. O presidente JK determinou a abertura da rodovia Brasília-Acre, fato que se concretizou em 1961. No rastro deixado por homens e máquinas que rasgaram a selva, chegam à Rondônia vários migrantes advindos das regiões sul e sudeste, principalmente. Este migrante que chegara às estas paragens é diferente de todos os outros que por aqui transitaram, ao passo que aqueles que chegaram à esta região até o II Ciclo da Borracha eram extratores e nômades, o migrante pós década de 1960 busca a fixação na terra, ou seja, tornar-se-á sedentário.
Nesse contexto, a região Norte do Brasil é um imenso vazio demográfico, fato que perdura até os dias atuais se comparada às regiões sul e sudeste. Portanto, ocupá-la era fundamental para garantir a soberania nacional e aplacar as tensões sociais em outras regiões da república. “Integrar para não entregar” e “terra sem homens para homens sem-terra”, essa era a base do Plano de Integração Nacional do governo militar.
O Território Federal de Rondônia não está imune à tudo isso, após a descoberta da cassiterita na década de 1960, proibição da lavra manual e padronização de mecanização através da portaria 195/1970, Rondônia é o destino de centena de pessoas que buscam terra, cassiterita e ouro como possibilidade de ganhar a vida e fazer seu “pé de meia”.
Face à este cenário o governo federal entende que o que está acontecendo no Território Federal de Rondônia é um caminho sem volta, isto é, era necessário elevá-lo à categoria de Estado, dotando-o da mínima infraestrutura para poder acolher estes milhares de brasileiros que para cá se dirigiam não só em busca de terra, mas alimentados pela possibilidade de riqueza gerada pelos inúmeros garimpos pulverizados ao longo dos rios que cortam o Estado.
Desta forma, o governo militar “recruta” um coronel que de acordo com o governo federal dispunha de todas as prerrogativas necessárias para preparar a criação do novo estado, entra em cena o Jorge Teixeira o último governador do Território Federal de Rondônia e o primeiro do Estado de Rondônia.
O Estado de Rondônia foi criado em 22 de dezembro de 1981 e instalado em 04 de janeiro do ano seguinte. Teixeirão era figura chave para garantir a criação desta nova unidade da federação. Sob sua responsabilidade e mediante o repasse de verbas federais ficou planejado que seria feito: asfaltamento da BR-364, a construção da usina hidrelétrica de Samuel, a criação do BERON, da Companhia de Mineração de Rondônia e de várias outras medidas que se mostravam urgentes para garantir a funcionalidade do novo Estado.
Ao longo das décadas de 1980/1990 o fluxo migratório, entre PICS e PADS, o Estado de Rondônia recebeu destemidos pioneiros que aqui chegavam almejando encontrar o seu EL DORADO.
*José Felinto é professor, graduado pela Universidade Federal de Rondônia.