CNI fracassa em tentativa de abafar corrupção na Fiero; interventor é desmascarado

Sérgio Moreira, o homem forte da CNI (Confederação Nacional da Indústria), responsável por destinar verbas a parte do setor produtivo brasileiro, fez uma investida “sórdida e indecorosa” para abafar a gravíssima corrupção na Federação da Indústria de Rondônia (Fiero). Por meio de um correio eletrônico, Moreira propõe “acordo entre as partes” para pôr fim à devassa na gestão do ex-presidente, Dênis Baú, que foi afastado por ordem judicial no início do ano após ter sido reeleito para o terceiro mandato num processo eleitoral eivado de falcatruas e vícios insanáveis.

A proposta feita por Sérgio Moreira foi endereçada ao empresário da cidade de Rolim de Moura, Edmilson Mato Cândido (destinatário principal), que coordena a Junta Governativa encarregada, por decisão da justiça, de examinar a extensão das irregularidades. O alto servidor da CNI, que passou dias em Rondônia numa missão que os empresários consideram “bastante suspeita”, foi ainda mais audacioso ao convidar apenas cinco dos 19 representantes sindicais locais a participarem de uma missão à Itália, onde um grupo de industriários brasileiros discutirá um “robusto e ambicioso programa para o desenvolvimento de cadeias produtivas do setor madeiro-moveleiro em Rondônia”.

Não por acaso, Dênis Baú dirigia a Fiero com apoio de cinco sindicatos, e o tema do encontro na Itália é a principal atividade de Edmilson Cândido, que, de forma discreta, rejeitou o convite. “Há incertezas quanto aos processos jurídicos aqui.Temos uma assembléia extraordinária convocada para decidir novas eleições. Agradeço, mas preciso estar presente aqui”, respondeu.
“Deem a segurança de que a mesma (intervenção) seja suspensa”, diz Sérgio Moreira no email, que foi interceptado. “O que não se plantar agora não se colherá mais na frente”, continua ele, que afirmou temer que o trabalho da Junta Governativa inviabilize parcerias desejadas, “como a com o Governo do Estado”.

Cooptação escancarada

O conteúdo da mensagem é alvo de uma indignação generalizada. Detalhe: o correio eletrônico foi disparado com cópias a vários conselheiros e empresários, inclusive ao principal investigado, Dênis Baú, que responde sindicância interna e também é réu em ação judicial por suspeitas de superfaturamento de licitação, falta de detalhamento técnico dos serviços executados em sua gestão, pagamento indevido de diárias, privilégios á empresa Embrascom, de sua propriedade, além de várias outras irregularidades, como a utilização de quase meio milhão de reais para produzir um vídeo institucional de apenas 5 minutos. O caso foi denunciado como tentativa de cooptação ao presidente da CNI, Robson Andrade, que ainda não assumiu posição a respeito.

Repúdio coletivo

Todos os conselheiros decidirem por um repúdio coletivo. A Fiero tem informações seguras de que Moreira, em sua estada na capital, não mediu esforços para devolver a presidência da entidade a Dênis Baú. Os empresários foram informados de visitas feitas pelo servidor da CNI à secretária de Meio Ambiente do Estado, Nancy Rodrigues, a quem ele teria pedido ajuda no sentido de convencer a Fiero a encerrar o embate (investigações) e convencer a entidade de que Dênis Baú é o melhor nome para dirigir a federação.

Vergonha generalizada

Membro titular do conselho de representante da Fiero e presidente do SINDUSCON, Chagas Neto, que também recebeu o email, respondeu a Sérgio Moreira nos seguintes termos: “vejo de uma forma indignada a sua pretensão de ditar conceitos e comportamentos aos empresários de Rondônia. Vossa senhoria deveria se ater a sua missão especifica de gerenciar o SESI e o SENAI, e não ficar fazendo politicagem interna da FIERO”. Ele lembra que “em 27 anos de criaçao da FIERO, esta é a primeira vez que a CNI usa sua força para intervir no SESI e SENAI no estado de Rondônia. Nós, sindicalistas, sentimo-nos envergonhados pelo acontecimento que tem como único responsável o presidente da administração anterior da federação”, escreveu Chagas Neto.
Intromissão descabida

”Como interventor do SESI e do SENAI, entendemos que suas funções se restringem às questões administrativas daquelas casas e não imiscuir-se em assuntos da política da Fiero e nas ações que o Conselho de Representantes tão arduamente tem combatido nos
últimos 14 meses, contra os desmandos do senhor Denis Baú”, respondeu, também por email, o conselheiro Jurandir Gomes de Almeida. “ O senhor precisa, urgentemente, nos esclarecer, quais foram as tarefas que o senhor Robson Andrade lhe encarregou de fazer aquí em

Rondônia, senhor Sérgio, pois se entre elas estiver o seu envolvimento nas questões políticas da Federação, precisamos mudar o nosso comportamento e começar a tratá-lo como mais um adversário nosso neste processo “, completou.