Artigos
"Desagravo Público" não é corporativismo
Quinta-feira, 02 Julho de 2015 - 11:24 | Cândido Ocampo

O que numa análise açodada pode parecer uma prerrogativa corporativista, num olhar mais profundo reveste-se, em verdade, de inquestionável garantia constitucional de preservação da dignidade pessoal e profissional. Uma conquista da cidadania.
O profissional liberal, independente da atividade que exerça, tem sua capacidade avaliada pelo prestígio que goza perante a coletividade. O reconhecimento social é um processo lento, que exige longos anos de dedicação e esforço.
Para o médico essa afirmação parece valer ainda mais, pois em sendo agente de uma atividade tão nobre, seus erros e acertos atraem a atenção de todos.
O olhar da nossa sociedade é rigoroso com a falha humana (de alguns humanos; infelizmente, com a falha dos políticos nem tanto. Foi necessária uma lei para nos impedir de votar em corruptos e entregar mandatos a condenados judicialmente por surrupiarem o dinheiro público).
Na grande mídia não é raro a veiculação de matérias sensacionalistas envolvendo erro médico. Antes de se apurar, ou sequer instaurar a investigação, o profissional é condenado e moralmente executado.
Superdimensionado pelos novos e maravilhosos instrumentos de comunicação, o sentimento humano ganha eco num piscar de olhos. Basta acessar uma rede social, expressar sua revolta e, pronto: como num efeito manada pessoas estão criticando e ofendendo sem saber quem e por que.
No plano material não há nada mais íntimo e necessário ao espírito que nosso corpo (e nossa saúde). O médico no seu dia a dia manipula esses dois elementos que nos compõem. Como um sacerdote da nossa dimensão orgânica, seus atos são avaliados com acentuado rigor.
Essas poucas palavras se propuseram a demonstrar o quanto somos reféns de nossas emoções. Poucas vezes, no primeiro momento, agimos com a razão. Nesse novo mundo sem espaço e tempo para reflexões, o impulso instintivo, não raro, é o estopim de nossas ações.
O Estado moderno, política e socialmente considerado, sabendo dessas vicissitudes humanas dotou algumas profissões de instrumentos jurídicos de proteção contra abusos e leviandades.
O desagravo público não é valhacouto de médico. Antes, tenta minimizar os efeitos nocivos das ofensas à dignidade da medicina.
Cândido Ocampo, advogado atuante no ramo do Direito Médico.
candidoofernandes@bol.com.br