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A Fontana di Trevi e o Trevo do Roque

Sexta-feira, 21 Janeiro de 2011 - 14:29 | Tadeu Fernandes


A Fontana di Trevi e o Trevo do Roque

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Soube que o nosso prefeito e sua família estão gozando merecidas férias na Itália e, certamente, visitando a Via Veneto, as Termas de Caracala, a Capela Sistina, o Panteon, mas principalmente a Fontana di Trevi, fonte na qual jogamos moedas para fazer pedidos. O nosso prezado alcaide, seguramente já fez o seu que é a melhoria da qualidade de vida em Porto Velho.

Não contesto o sagrado direito de nosso chefe administrativo municipal ao merecido descanso com seus familiares na Capital da Itália, indo à  Basílica de São Pedro, onde se encontra a Pietà, a estátua de David, esculpidas por Michelangelo, para receber as bênçãos do Vaticano; a Catedral de São João de Latrão, com suas gárgulas e águas iluminadas, e ainda, o Coliseu. Indo mais para o sul usufruirá das delícias de Nápoles e ver de perto o monte Vesúvio, a cidade de Capri e conhecerá a Gruta Azul. Indo ao norte passará por Milão, onde na catedral (Duomo de Milão) encontram-se as tumbas de Galileu Galilei, Copérnico e Michelangelo. Prosseguindo passará por Turim e Santo Antonio de Pádua, até alcançar Veneza, onde está a Catedral de São Marcos e sua maravilhosa praça repleta de pombos. Andará de gôndola nos belos canais, não deixando de conhecer a torre inclinada de Pizza. Uma bela auto-estrada, que dizem ter sido construída pelo Vaticano, levará a Roma. É quase toda reta, apesar das montanhas, graças aos túneis e à construção de viadutos. Estive algumas vezes e sei das suas belezas. Poderá, atravessando a Cortina d’Ampezzo, através  dos Alpes, chegar à Áustria, não se esquecendo de tomar um bom chope em Innsbruck, no vale do Tiso, e degustar a deliciosa salsicha e o vinho do Reno, e ainda, escutará as maravilhosas valsas vienenses. Olhará ainda as belezas naturais da Holanda e  as montanhas da Suíça.
Até aí tudo bem e está certo na sua escolha. O mais importante é que com olhos de águia e bem atento recolha traços de como se constrói uma cidade. Roma, chamada de cidade eterna, tem uma qualidade de vida das melhores do planeta com seu sistema viário. Verá a limpeza das ruas, a cultura do seu povo, sem falar de seu sistema hídrico, que vem dos velhos tempos de império, a rede de água e esgoto que, apesar de milenar, foi modernizada, assim como suas centenas de fontes e parques.

Não temos o mínimo interesse de contrapor o merecido direito às férias de nosso chefe da municipalidade. Sabemos das dificuldades para administrar uma cidade como Porto Velho, com seus múltiplos problemas, inclusive o recente inchaço desordenado. Acredito até em suas boas intenções como administrador, porém há que se fazer uma ressalva: se assessorando de mais engenheiros e arquitetos para melhor planejar e executar as boas obras públicas na Capital.

Ficaríamos mais otimistas se o Prefeito, nestas andanças, fizesse uma reflexão sobre a diferença que existe entre os povos do velho continente e nós que habitamos a Amazônia. É lógico que não somos pretensiosos de fazer comparações, de querer que uma cidade com apenas cem anos, como Porto Velho, propicie os mesmos benefícios da cidade eterna. Porém, como já dizia o Chacrinha, neste mundo nada se cria, tudo se copia. Poderíamos aproveitar algumas ideias já consolidadas, adaptando-as à nossa Capital.

Lembro de uma conversa, quando presidente da Câmara de Alto Paraná, no início da década de 70, com o Presidente da Assembleia Legislativa do Paraná, Wilson Fortes, com Arnaldo Busato e Jaime Lerner, em Curitiba. Falávamos sobre a criação do IPPUC, Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba, órgão criado em 1965 por Ivo Arzua, objetivando a implantação de um plano diretor, com um grupo multidisciplinar formado por arquitetos, engenheiros, economistas, sociólogos, administradores públicos, instituindo normas sem a burocracia que emperra os bons projetos na busca de soluções inovadoras para os problemas urbanos.

A cidade é um ser vivo com constantes mudanças. É imperioso transformar planos em ações, ideias em obras, estudos em diretrizes, projetos em soluções. Foram requisitados os melhores técnicos em conhecimentos de organização de áreas urbanas e bons engenheiros de tráfego. Foi implantando por Cássio Taniguchi e Jaime Lerner toda a organização da cidade. De lá para cá o IPPUC continua com autonomia, independentemente de quem seja o prefeito. O Instituto comanda e planeja a cidade, estabelecendo as zonas residenciais, comerciais e industriais, define a altura e tamanho dos prédios, as áreas verdes, parques e jardins.

Assim, nasceram os ônibus expressos articulados, com canaletas próprias e estações modernas. O usuário paga uma só passagem e pode circular pela cidade inteira. É um modelo de gestão que pode ser copiado por outras administrações. Lá estão o Cássio e o Jaime Lerner. Basta visitar o IPPUC e de lá tirar os ensinamentos com o fim de efetivá-los entre as duas cidades, a do barreado e a da tapioca.
Quando o atual prefeito foi eleito pela primeira vez escrevi um longo artigo em que lhe desejava profícua administração e já mencionava a criação do nosso “IPPUP - Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Porto Velho”, traçando e planejando a nossa Capital. Mas, talvez não leram nada do que escrevi.

Com o retorno do prefeito e com mais disposição para o trabalho, tem-se que seguir metas rígidas de administração, melhorar o seu planejamento, retomar obras, inclusive as do PAC, pois o que percebemos é que quase todas estão paradas. Executar as obras prioritárias já atrasadas, melhorar nossa infraestrutura, principalmente saneamento básico, saúde e habitação. O sistema viário está um caos e a nossa rodoviária é uma vergonha. Porque não construir um sistema com boas unidades aparelhadas adequadamente, pagando o justo aos seus profissionais e construir centros de saúde nos bairros?

Porto Velho cresceu e cresceu muito. O poder público se descuidou e não acompanhou o ritmo da demanda causada pelo inchaço populacional. Não houve bom aproveitamento das verbas recebidas, certamente por falta de bons projetos e melhor planejamento, e quem sofre é a população. Quando teremos a continuação das obras que estão paralisadas? Quando o sistema viário será melhor organizado? As calçadas são uma calamidade. Nas que existem cada um constrói na altura e no espaço que quer. São lojas, bares e restaurantes que constroem nestas mesmas calçadas como se fossem de sua propriedade, quando sabemos que as calçadas são áreas de uso comum. Comprometem a circulação dos cidadãos e nada acontece para que sejam “limpas”.

Ao longo dos anos o que se observou em Porto Velho foram obras corretivas, cuja execução sempre foi imposta pela necessidade de buscar soluções imediatas, já emergenciais, tendo em vista o crescimento desordenado. Sempre houve dificuldade de um melhor planejamento urbano, seja por falta de recursos ou pela ocupação e implantação de vários bairros que foram criados sem a mínima infraestrutura.

Há que se atender aos cidadãos com obras funcionais e também de melhor qualidade e padrão visual, empregando-se materiais de melhor qualidade para que não se continue caindo na constante necessidade de se refazer em pouco tempo cada um dos próprios municipais.

Iniciaram a construção de viadutos de elevados custos em vários trevos rotatórios de veículos, quando existem soluções em algumas cidades dos EUA bem mais práticas e baratas. Para isso coloquei acima como funciona a circulação dos veículos em um entroncamento de vias de acesso, ideia que poderia ser estudada e implementada em nossa Capital com o dispêndio de menor recurso financeiro. É uma solução muito mais prática e eficiente, ao contrário desses monstrengos que estão (ou estavam) sendo construídos e que deixam dúvidas, inclusive sobre a sua funcionalidade.

É chegada a hora de parar de sermos aprendizes de feiticeiro. Porto Velho já é quase uma metrópole, exigindo maior e melhor eficiência em vários setores da administração. Por que não estabelecer um só setor, com plena autonomia para organizar e planejar nosso futuro e seu crescimento? O desordenamento, como está, terminará em um caos total. Ainda há tempo, basta que os rumos sejam refeitos, que haja vontade política de ver o problema como um todo.

Constata-se a construção de grande quantidade de espigões, centenas de obras de comércio e residências, inclusive em áreas de condomínio fechado. Onde está a contrapartida das construtoras para o escoamento destes milhares de veículos, da água e esgoto, do planejamento viário? Parece que  somos totalmente amadores e tudo pode ser feito sem  pensar. Só concreto e construções desordenadas não  é o que queremos e pretendemos para a nossa cidade. Acabamos desenvolvendo a falsa impressão de que o futuro chegou, quando na realidade estamos sendo rodeados por concretos  sem a mínima qualidade de vida.

Não rebato a iniciativa e a vontade do ex-governador Cassol em construir um melhor centro administrativo na Capital, mas vamos lá: porque o projeto não aproveita melhor o nosso clima? Esse amontoado de cimento, que parece ter alguma beleza e funcionalidade não tem nada a ver com a nossa região. Melhor seria se fosse projetado atentando às condições de nosso clima, com amplos espaços e melhor aproveitamento da luz solar. Aliás, os estudantes de engenharia e arquitetura, com criatividade e imaginação, devem se debruçar e estudar ideias inovadoras mais adequadas ao nosso Estado.
A sociedade como um todo tem que criar seus Conselhos de Representação Popular e o povo exigir melhor qualificação no nosso planejamento e qualidade nas construções que atendam aos interesses do ser humano.

Selvas de pedras e dificuldade de locomoção não é o que queremos. Vamos exigir obras que nos liguem à natureza, aproveitando a energia solar. Os prédios, construídos em Curitiba, que é uma cidade de clima frio, não servem como modelo de arquitetura para esta região de trópicos. Tem-se que construir edificações com pé direito mais alto e maior luminosidade natural, muitas plantas, espaços amplos, diminuindo em muito seus custos, e ainda, ambientes mais ventilados e que possamos usufruir de uma cidade com melhores meios para vivermos com qualidade.

Repito que a arquitetura da Amazônia não deve ser a mesma do sul e sudeste. Vamos promover concursos. Com a competência de nossos estudantes e profissionais, certamente serão apresentadas sugestões inovadoras e interessantes que deverão ser aprovadas e implantadas.
Como não temos uma fonte para jogarmos nossas moedas, vamos lançá-las sobre as águas do Rio Madeira, fazendo nossos pedidos para que a cidade cresça e progrida, mas que as ideias precedam as máquinas e o interesse do homem esteja acima das vaidades e do desejo de priorizar somente o lucro, pois antes de tudo somos humanos e como animais racionais, temos que viver em um ambiente onde se priorize o homem, com mais espaço para sermos livres e aproveitarmos mais o que o ar puro da  Amazônia nos oferece.

Apesar de tudo, me satisfaz plenamente ver em Porto Velho o espetáculo maravilhoso que nos é proporcionado pelo mais belo pôr do sol do planeta, às margens do Rio Madeira. Ele existe, embora nunca tocado, vale a pena um dia tentar. É um prazer visual só comparado ao fenômeno climático luminoso de cor esverdeada que é a aurora boreal no pólo norte, proporcionada pelos átomos de oxigênio das altas camadas. A natureza não é importante para muitos, que deixam de ver as belezas do planeta com seus próprios olhos, pois vivem na escuridão quando não olham para si, nos outros e na própria vida.

O autor é a advogado

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