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Até tu, Brutus? - Por Ivonete Gomes
Terça-feira, 20 Dezembro de 2011 - 09:20 | Ivonete Gomes
O rescaldo da Termópilas, levado ao ar pelo Fantástico, revelou duas personalidades distintas no comando de Rondônia. De um lado um presidente de Legislativo persuasivo, arrogante e centralizador e do outro, um governador manso, desarticulado, traído e incapacitado na arte de indignar-se.
Com a fama de ter boa fé, o governador Confúcio Moura (PMDB) saiu ileso do escândalo de roubalheira na Saúde do Estado. Ninguém ousou duvidar da honestidade do chefe do Executivo, mesmo quando revelado que o próprio recebeu a Polícia Federal na manhã da operação para cumprimento de mandado de prisão dentro da “residência oficial”. Mas, titubear em frente às câmeras do Fantástico deixou arranhada a figura do bom moço.
Convenhamos, todos estamos passivos a características inerentes àqueles com deficiência de caráter. Pudesse a ciência comprovar, a deslealdade teria a mesma idade de criação do homem. A história revela grandes traidores. Judas é o mais famoso deles. Mas, há inúmeros outros casos de trapaças e mentiras à custa da confiança alheia.
William Shakespeare tinha veneração pelo tema e em “Otelo, o Mouro de Veneza” leva o público à reflexão das falsas amizades. Na peça, Iago - alferes do general Otelo - se sente injustiçado quando seu comandante nomeia outro para o posto de tenente. Decide então se vingar, fazendo Otelo pensar que sua mulher, Desdêmona, o traiu. Consumido pelo ciúme, o general mata a amada asfixiada.
O Brasil tem suas traíras históricas. Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, organizou um levante de objetivos separatistas após a Coroa Portuguesa aplicar taxas abusivas. Foi traído pelo companheiro, Joaquim Silvério dos Reis, e acabou na forca.
Traição parece nunca ficar démodé. Aliás, uma mesma frase já é usada há mais de dois mil anos em referência aos desleais: “até tu, Brutus?” A indagação foi feita pelo imperador romano Júlio César, vítima de conspiração de senadores e do próprio filho adotivo, Marcus Brutus.
Traição é mesmo coisa antiga. Tão antiga quanta a capacidade que o ser humano tem de revoltar-se contra os abusadores da boa fé. Infelizmente, a passividade excessiva de Confúcio destoa do estereótipo de um chefe de Executivo.
Parece que a máquina Rondônia está governando mais do que é governada.