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Conheça um pouco da pesquisa florestal da Embrapa na Amazônia

Terça-feira, 22 Março de 2016 - 21:57 | Edição: Síglia Souza


No Brasil existem diversos tipos de florestas em diferentes biomas e a Embrapa tem uma forte atuação de pesquisa na temática florestal em todo o País, realizando atualmente 137 projetos no Portfólio de pesquisa em Recursos Florestais Nativos. Nesse contexto, a Embrapa vem desenvolvendo diversas linhas de pesquisa na Amazônia.

Que tal conhecer um pouco da pesquisa realizada pela Embrapa na maior floresta tropical do planeta? A floresta amazônica, cuja área se estende por nove países e tem sua maior parte (cerca de 60%) dentro do Brasil.  Diversos serviços ambientais como o armazenamento de carbono, ciclo da água, manutenção do equilíbrio climático, além da diversidade biológica e sociocultural, reforçam a importância da floresta amazônica para o Brasil e para o mundo. Conhecer melhor os seus serviços ambientais, aproveitar o potencial da biodiversidade e desenvolver estratégias que contribuam para a conservação e o uso sustentável da floresta, em benefício das pessoas que nela vivem, são alguns dos desafios que impulsionam as pesquisas.

Do total do Portfólio de pesquisa em Recursos Florestais Nativos,  68 projetos são liderados pelas Unidades da Embrapa presentes na Amazônia, o que corresponde a 49,6% da carteira de projetos. Entre os temas que se destacam estão a Recomposição de Áreas de Proteção Permanentes (APPs) e Reserva Legal, Sistemas de Produção, Melhoramento Genético, Manejo Madeireiro, Manejo de Produtos não Madeireiros e Conservação da Biodiversidade.

Segundo o coordenador deste Portfólio, pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental, Milton Kanashiro, a transdisciplinaridade é uma estratégia marcante dos projetos na produção de ciência, tecnologia e inovação. Os projetos incluem,entre outras metodologias, a pesquisa-ação diretamente com agricultores familiares, que é um dos públicos prioritários. Acontecem também em parceria com agências de fomento, extensão e capacitação florestal, associações e cooperativas de produtores e manejadores florestais, universidades, e com os governos nos níveis federal, estaduais e municipais.

Um dos exemplos que se destaca no Portfólio  é o Projeto Especial que versa sobre "Soluções Tecnológicas para Adequação da Paisagem Rural ao Código Florestal Brasileiro", de abrangência nacional, mas que tem enorme impacto na região amazônica. Esse projeto é liderado pela pesquisadora Soraya Barrios, do Departamento de Transferência de Tecnologias (DTT) da Embrapa, em Brasília (DF).

Conheça, a seguir, alguns resultados da pesquisa florestal, a partir da contribuição de seis unidades de pesquisa que estão presentes e atuam diretamente no bioma Amazônia: Embrapa Amazônia Ocidental (no Amazonas), Embrapa Amazônia Oriental (no Pará), Embrapa Acre, Embrapa Rondônia, Embrapa Roraima e Embrapa Amapá. O trabalho de pesquisa se articula também com a contribuição de outras unidades da Embrapa e de instituições parceiras.

Conhecimento para apoio ao manejo florestal não madeireiro

Vários conhecimentos da ecologia e manejo de espécies florestais com uso não madeireiro para auxiliar na recomendação de práticas de manejo sustentável para a Amazônia foram desenvolvidos pelo projeto Kamukaia,  que envolve uma rede de pesquisa da Embrapa e vários parceiros em todos os estados da região Norte, atuando desde 2005.  As principais espécies pesquisadas até o momento foram a  castanha-do-brasil, andiroba , copaíba  e cipó titica.  De acordo com a pesquisadora da Embrapa, Lúcia Wadt, líder do projeto que iniciou a rede, as pesquisas da rede Kamukaia contribuíram para definição de políticas públicas tanto em nível federal quanto estadual, além de gerar muitos conhecimentos científicos sobre as espécies alvo. Estima-se que a rede gerou mais de 170 documentos técnico-científicos entre artigos científicos, documentos técnicos, teses e dissertações, resumos em congressos, etc.  Entre os vários resultados desse projeto, destacam-se as recomendações de boas práticas para a produção de castanha-do-brasil e de andiroba que pode ajudar as populações amazônicas a conseguirem melhores preços e mercados para esses produtos, além de promover as cadeias produtivas da sociobiodiversidade.

A Rede Kamukaia continua ativa com uma proposta nova de projeto de pesquisa incluindo outras espécies como pracaxi, urucuri e seringueira. Se alguém quiser se integrar à rede, pode entrar em contato com a pesquisadora da Embrapa Rondônia, Lúcia Wadt (lucia.wadt@embrapa.br), que também exerce a secretaria do Portfolio de Recursos Florestais Nativos.

Manejo sustentável de andirobeiras

Um dos resultados dos trabalhos iniciados com a rede Kamukaia foi o lançamento, pela Embrapa Amapá, em 2015, de uma cartilha para o manejo da andirobeira (Carapa guianensis), importante árvore do bioma amazônico. A publicação é assinada pela pesquisadora Ana Cláudia Lira Guedes, da Embrapa Amapá, e pela analista do Instituto Estadual de Florestas (IEF), Mariane Nardi. Com orientações baseadas na prática dos extrativistas de regiões ribeirinhas do estuário do Amapá, e no conhecimento técnico de pesquisadores, a cartilha tem o objetivo de orientar extratores de óleo de andiroba no manejo das florestas, com foco na ecologia, segurança do trabalho e padrões de higiene a fim de garantir a qualidade do produto final. As andirobeiras são árvores de porte médio e alto (podem chegar até 35 metros de altura nas florestas de várzea); O fruto é um ouriço que se abre quando cai no chão, liberando sementes, cujo óleo é utilizado em cosméticos e produtos medicinais.  A publicação tem como título "Guia prático para o manejo sustentável de andirobeiras de várzea e para a extração do óleo de suas sementes" e sistematiza os conhecimentos obtidos durante as atividades de pesquisa participativa e de assistência técnica, realizadas no Amapá. Os estudos prosseguem por meio de projetos liderados pela Embrapa Amapá, dentre eles, o Projeto Florestam (Ecologia e manejo florestal para uso múltiplo de várzeas do estuário amazônico) e outro projeto viabilizado em parceria com o Suriname. Para fazer download da cartilha clique aqui.

Pesquisas para a cadeia da Castanha-do-Brasil

Diante de sua importância como fonte de renda  para milhares de famílias agroextrativistas na Amazônia, a Castanha-do-Brasil (Bertholletia excelsa Bonpl.)  ganhou destaque no contexto das pesquisas da Embrapa, resultando em 2013, na  articulação de um conjunto de projetos específicos (denominado no âmbito da Embrapa, como arranjo de projetos) com intuito de abordar as diversas necessidades de pesquisas para a geração de  "Tecnologias para o fortalecimento da cadeia de valor da castanha-do-brasil" (TechCast). Assim, diversos projetos estão sendo desenvolvidos neste arranjo, podendo-se citar, dentre outros: Melhoramento Genético da Castanheira-do-Brasil para Produção de Frutos - MelhorCast, coordenado pela Embrapa Roraima;  e  Ecologia e Genética da Castanheira, como Subsídio à Conservação e Uso Sustentável da Espécie - EcoGenCast, também coordenado pela Embrapa Roraima; e Mapeamento de Castanhais Nativos e Caracterização Socioambiental e Econômica de Sistemas de Produção da Castanha-do-Brasil na Amazônia - MapCast, coordenado pela Embrapa Amazônia Ocidental.

Segundo a pesquisadora da Embrapa Amazônia Ocidental, Kátia Emídio da Silva, que lidera o projeto MapCast, o objetivo deste projeto em rede, com atuação em seis estados da Amazônia, é gerar metodologias e tecnologias que auxiliem no mapeamento e caracterização de castanhais na Amazônia, utilizando tecnologias digitais disponíveis, bem como caracterizar os sistemas  de produção e os atores envolvidos na extensa cadeia produtiva da castanha, a fim de contribuir para o fortalecimento da cadeia de valor desta espécie. O projeto começou a ser executado em 2014 e tem vigência até fevereiro de 2018.   "A partir do conhecimento gerado pela pesquisa, que também leva em conta a experiência e os saberes locais, muito se poderá avançar no sentido de tornar nossas florestas sustentáveis, permitindo a geração de serviços ambientais e sociais", explica a pesquisadora. Para saber mais sobre o projeto MapCast,clique aqui.

Manejo florestal madeireiro com alta precisão

Entre soluções tecnológicas para o manejo florestal, um dos destaques é para o Modelo Digital de Exploração Florestal (Modeflora), uma inovação tecnológica para planejar, executar e monitorar as atividades de manejo com alta precisão. O uso da ferramenta permite representar previamente no computador os aspectos espaciais da realidade florestal. Informações como localização das árvores e nascentes, igarapés, Áreas de Preservação Permanente (APP), curvas de nível e relevo compõem o banco de dados do plano de manejo. Com esses dados, é possível fazer com que o planejamento prévio respeite as características ambientais da área de manejo florestal, com uso de técnicas exploratórias de baixo impacto e redução de custos. Esta solução tecnológica foi desenvolvida pela Embrapa Acre e Embrapa Florestas. Em 2015 foram explorados aproximadamente 18.500 hectares com a metodologia Modeflora, referente à 15 planos de manejo no Acre (45%), Rondônia (35%) e Amazonas (20%). Desde seu lançamento, em dezembro de 2007, o Modeflora já foi utilizado em aproximadamente 300.000 hectares.Para saber mais acesse o livro sobre a tecnologia Modeflora,para download aqui.

Tecnologia de sensoriamento remoto a laser

Outra ferramenta tecnológica para o manejo florestal de precisão é uso da tecnologia Lidar (sensoriamento remoto a laser), pelo qual  é possível determinar, por exemplo, estruturas de vegetação, redes de drenagem, topografias e impactos ambientais em florestas nativas da Amazônia. Nos anos de 2010 e 2012, foram realizados testes com o Lidar na Floresta Estadual do Antimary, principal projeto de manejo florestal do Acre, no município de Sena Madureira. Os dados desses testes têm permitido comparar métodos tradicionais de exploração florestal e o Modeflora (Modelo Digital de Exploração Florestal), para verificar a eficiência do uso dessa tecnologia em florestas tropicais. Com os resultados do projeto, coordenado pela Embrapa Acre, será possível a avaliação da qualidade de execução e dos impactos ambientais produzidos pela extração de madeira na área. O uso dessa tecnologia tornará o planejamento e o monitoramento das operações florestais na Amazônia mais fácil e com menos custos. Para saber mais sobre essa tecnologiaacesse o livro Uso do Lidar como ferramenta para manejo de precisão em florestas tropicais, disponível para download aqui.

Metodologia para o manejo sustentável

Dentre os resultados obtidos em pesquisa para o manejo florestal madeireiro, a Embrapa Amazônia Ocidental desenvolveu metodologia para auxiliar na seleção de árvores matrizes e árvores para a exploração florestal, com base em critério ecológico que leve em conta a diversidade de espécies no entorno de árvores selecionadas. Isso pode contribuir para a manutenção da estrutura e composição de espécies no povoamento florestal remanescente após a exploração florestal, em regime de manejo sustentável.  A metodologia é um dos resultados do projeto "Influência de Variáveis do Solo no agrupamento de Espécies Arbóreas na Floresta Densa de Terra firme na Amazônia", coordenado pela pesquisadora Kátia Emídio, na Embrapa Amazônia Ocidental, no período de 2013-2015. O projeto foi financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Amazonas (Fapeam).

Regeneração de florestas

Uma pesquisa na Floresta Nacional do Tapajós, no oeste do Pará, está trazendo respostas inéditas a respeito da regeneração de florestas tropicais 35 anos após a primeira colheita das árvores comerciais. O trabalho é coordenado pela Embrapa Amazônia Oriental, com a parceria de outras instituições. Com o estudo, pretende-se identificar quais são os fatores mais importantes na reconstituição da floresta e como eles atuam nos processos da dinâmica florestal. Os dados apontam para a regeneração da floresta em volume, mas atentam à necessidade de planos de manejo que visem à manutenção das populações de todas as espécies arbóreas, garantindo maior diversidade e rentabilidade.Para saber mais sobre o estudo clique aqui.

Opções florestais para recuperação de áreas desmatadas

Em Roraima, recente resultado de pesquisa recomendou bactérias eficientes para a fixação biológica de nitrogênio (FBN) em pau-rainha (Centrolobium paraenseTul.), árvore nativa do Estado indicada para evitar erosão com bom potencial para exploração madeireira e com capacidade de fixar nitrogênio economizando adubação e melhorando a qualidade do solo. O trabalho inclui o desenvolvimento de protocolo para produção de mudas, etapa importante já que a planta poderá ser incluída em programas de recuperação de áreas desmatadas da região Norte, atendendo o novo Código Florestal Brasileiro. O pau-rainha é uma leguminosa arbórea que se beneficia do processo de FBN através da simbiose com bactérias conhecidas como rizóbios, relação que está sendo estudada por pesquisadores da Embrapa desde 2010. Esses estudos revelaram uma grande diversidade de bactérias que realizam esse processo e foram isolados 178 rizóbios oriundos de diversas regiões do Estado de Roraima. Esses microrganismos foram identificados e foi encontrada, entre eles, uma nova espécie do gênero Bradyrhizobium nomeada Bradyrhizobium neotropicale, que se tornou a primeira bactéria desse gênero nativo do Brasil. Conhecer a diversidade de bactérias associadas ao pau-rainha facilitará a produção de mudas e a utilização dessa leguminosa em manejos sustentáveis e programas de recuperação de áreas nativas desmatadas, sem a introdução de espécies exóticas na região, explica a pesquisadora da Embrapa Roraima, Krisle da Silva. Para saber mais sobre a FBN em pau-rainha, acesse página com matéria e publicações sobre o assunto.

* colaboraram com informações para esta matéria: Embrapa Amazônia Oriental - Kelem Cabral; Embrapa Amazônia Ocidental- Síglia Souza e Felipe Rosa; Embrapa Rondônia- Renata Silva; Embrapa Acre - Priscila Viudes e Fabiano Estanislau; Embrapa Roraima - Thassiane Ubida e Clarice Rocha; Embrapa Amapá - Dulcivânia Freitas.

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