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Contra o aborto, mas pela liberdade de escolha - Por Ivonete Gomes

Domingo, 29 Abril de 2012 - 09:43 | Ivonete Gomes


Acredita no livre arbítrio, como dádiva divina, aquele que tem fé em Deus? Não sabem as mulheres crentes que se praticarem aborto sofrerão os castigos previstos no livro sagrado? Não estão os pastores educando e vigiando suas ovelhas? Se a resposta é positiva para as três perguntas então não há justificativa plausível, no âmbito religioso, para inquietação quanto à descriminalização de práticas abortivas.

Vê-se que, ante a proximidade de votação da reforma do novo Código Penal, não bastasse a crise na distinção entre o justo e o legal, o moral e o jurídico, os brasileiros sofrem com a intolerância, contradições e imposições de segmentos religiosos. Nesse imenso continente laico, há insistentes líderes de igrejas lutando para sobrepor a crença à legislação, ignorando as pregações sobre um Deus justo que dá aos filhos o direito de arcar com a conseqüência das próprias escolhas.



O Brasil vive um momento “sui generis”, quando política e religião estão, absurdamente, tão juntas e misturadas que há bancada de evangélicos no Congresso Nacional. É esse grupo de parlamentares que deve apresentar durante a semana uma proposta de emenda constitucional para incluir na Carta Magna o termo “desde a concepção”, no artigo que trata do aborto. Se aprovada e sancionada, ficam proibidas todas as formas de interrupção de gravidez, inclusive as permitidas desde 1940, como gestação que ofereça risco de vida à mãe e aquela causada por estupro.

É absurda a premissa abortista de que a mulher tem o direito de  dispor do próprio corpo, posto tratar-se de outro ser dentro do útero e amparar a irresponsabilidade. Mas, é cruel condenar ao sofrimento mulheres violentadas sexualmente ou com a morte anunciada.

Sem pretensão de encerrar qualquer debate acerca de tão polêmico tabu, levantemos somente o questionamento se não seria de bom alvitre deixar o tema no âmbito da consciência e crença individuais. Cada um arcando com as conseqüências dos próprios atos, seja na justiça dos homens, seja na justiça de Deus.

Por fim, a crença não pode sobrepor-se a lei, posto que esta seja para o alcance de todos e nem todos compartilham de uma mesma fé.

Aquela mulher estuprada; aquela mulher que corre risco de vida com a gravidez e aquela que espera um natimorto tem o direito de escolher. Se for pecado, um Deus justo há de perdoar.

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