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Nova reunião do Grito da Pecuária não chega a consenso
Quarta-feira, 11 Maio de 2016 - 13:20 | Roni Viana
Em uma reunião de clima tenso em alguns momentos e defesa de interesses coletivos, mas branda, em outros, na noite da terça-feira (10) em Ji-Paraná representantes de grandes pecuaristas rondonienses realizaram mais uma etapa do Grito da Pecuária. A denominação do evento de “grito” é a metáfora escolhida pelos criadores diante da baixa do preço da arroba bovina em Rondônia, atualmente entre R$ 128 e R$ 130, contra R$ 153 de Estados como São Paulo e R$ 135 no vizinho Mato Grosso. As estimativas dos técnicos ligados ao Grito da Pecuária são de que nos últimos 10 meses a perda dos criadores rondonienses, considerando o rebanho estadual superior a 13 milhões de cabeças e o índice de abates, tenha ultrapassado R$ 725 milhões. O objetivo do movimento, além de elevar o preço da arroba, é encontrar meios que deem seguridade jurídica aos proprietários de grandes áreas, principalmente, contra invasões e a defesa de seus interesses, como a legalização das propriedades.
O Grito da Pecuária tem percorrido cidades rondonienses debatendo os problemas enfrentados atualmente pelos criadores. Na reunião da terça, no Parque de Exposições Hermínio Victorelli, compuseram a mesa de autoridades o vice-governador Daniel Pereira, o secretário de Estado de Agricultura, Evando Padovani; o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Rondônia ( Faperon), Hélio Dias; o gestor da Superintendência de Desenvolvimento de Rondônia (Suder), Basílio Leandro; o presidente da Associação dos Produtores de Rondônia (Apro), Adelio Barofaldi, o vice-prefeito Marcito Pinto e Eduardo Ferreira, representando a Associação Rural de Rondônia, anfitriã do evento. O presidente do Fundo Emergencial da Febre Aftosa, José Vidal Hilgert, não fez parte da mesa e isso se explicou quando o microfone foi levado até ele. Numa demonstração clara da falta de interação entre o Governo do Estado e o setor privado, Vidal falou dos problemas enfrentados desde 2010, em razão da mudança imposta sobre a forma de contribuição ao Fefa, que deixou de ser espontânea e passou a ser uma taxa obrigatória, o que não foi bem recebido pelos criadores. O Fefa é, reconhecidamente, a principal entidade que levou Rondônia ao status de área livre de aftosa com reconhecimento internacional, mas atualmente está praticamente esquecida pelo governo, que criou um fundo paralelo e burocratizou a agilidade que o Fefa tinha em ações de emergência. Antes disso, o Fefa até mesmo construía sedes à Agência Idaron. Sem o Fefa e no caso de um foco de aftosa, o governo levaria dias para iniciar suas ações, permitindo a propagação da doença. Por isso diz-se que a agilidade do Fefa foi burocratizada.
Da parte da Faperon, Hélio Dias, falou da necessidade dos criadores se organizarem, principalmente por meio dos sindicatos. Disse ainda que busca junto aos frigoríficos meios para que a arroba volte a ter equiparação com outros centros e para isso exige transparência. Uma das medidas seria a implantação da balança do criador junto aos frigoríficos. Essa balança seria gerida pelos criadores, que também arcariam com sua implantação, evitando as discussões sobre o real peso da carcaça após o abate. Com essa organização, se buscaria a valorização.
Ainda sobre os frigoríficos, os técnicos demonstraram a tendência de migração das unidades de abate para as divisas geográficas com o Mato Grosso, o que seria uma das formas de forçar a baixa do preço da arroba. Isso porque há maneira de obter maior oferta nos dois estados, forçando o menor valor.
Às vésperas de visita de comissão europeia, que pode abrir mercado a Rondônia, os criadores falaram em meios de não permitir que só os frigoríficos lucrem com novos mercados. A visita europeia está programada para iniciar no dia 23 deste mês e deve ter uma atenção especial por parte do Grito da Pecuária, justamente buscando esclarecimentos sobre os preços da arroba bovina para exportação.
Representando o Estado, o secretário Padovani e Daniel Pereira uniformizaram discurso sobre apoio às reivindicações que estão sendo elaboradas pelo Grito da Pecuária, mas não apresentaram soluções à melhora do preço da arroba bovina, além do que já foi feito. Citando a baixa da pauta do bezerro, que permitiu que compradores de outros estados (principalmente Mato Grosso e São Paulo) buscassem animais em Rondônia.
Com foco a partir de agora à visita da missão europeia, os criadores mantiveram sua posição de continuar buscando meios para que o preço da arroba bovina tenha elevação. Uma das propostas, que não é consenso, seria de até mesmo fechar com piquetes a entrada de algumas plantas frigoríficas. Como não é unanimidade e como a maioria das outras pautas do Grito da Pecuária, a proposta continuará sendo debatida nas próximas reuniões, que devem ser reiniciadas após a visita da missão europeia a Rondônia.