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O choro é livre
Terça-feira, 16 Junho de 2015 - 09:50 | Serafim Godinho
Nossa espécie é a única do reino animal capaz de chorar, sendo este evento diretamente relacionado ao nosso instinto de defesa e comunicação basta nos lembrarmos do choro do bebê, indicando que algo não vai bem. Chorar pode expressar uma gama de sentimentos, dentre eles a tristeza, dor física, indignação, insegurança, medo - ou mesmo felicidade.
Nascemos chorando. O choro é o único recurso de comunicação do bebê até os três meses de idade. Por esse meio os bebês expressam fome, raiva, dor ou tédio e às vezes sem nenhum motivo. Afinal, quem não chora não mama.
Quanto aos adultos, choram por tudo e necessariamente não se precisa ser de tristeza. Pessoas choram de alegria, de emoção, por diversos motivos. Houve uma época em que o choro determinava a importância do falecido, tanto que existia a profissão de carpideira. Eram mulheres que se contratavam para chorar em velórios.
Por outro lado tem pessoas que gostam tanto de chorar que o faz de graça, freqüentando velórios, até de desconhecidos, pois ali é o melhor local para desabafar os seus próprios problemas.
Como a vida é feita de alegrias e tristezas, altos e baixos, planícies e montanhas, podemos afirmar que todos nós choramos. A diferença é que alguns o faz com estardalhaço enquanto outros são mais discretos.
Ernest Hemingway em seu romance - Por quem os sinos dobram, escreveu em seu famoso livro, o que à época era comum, o sino da Igreja anunciar tudo, inclusive o falecimento de uma pessoa.. Impensável hoje, com raras exceções uma igreja ser referência de todos os assuntos até mesmo em termos de comunicação. Com raras exceções, já se vão longínquos os tempos em que a Igreja era a referência de uma comunidade em todos os assuntos, inclusive em termos de comunicação. Com rádio, televisão, computador, internet e celular à mão, soam anacrônicas e até jocoso, além de improvável, imaginar que o sino de uma capela pos¬sa anunciar a uma população inteira um novo fato da localidade.
Mas era assim e Hemingway definiu bem a maior motivação do choro, na espécie humana: o sentimento de perda.
Ele afirma que a morte de qualquer ser humano reflete em nós como um todo. Daí a belíssima frase, quando ouvires os sinos dobrarem, não perguntes por quem eles dobram, lembrem-se que eles dobram por ti também.
Em uma solenidade de casamento, pode se observar, que alguns choram por sentimentos de perda, outros de orgulho, de felicidade, outro ate de tristeza e alguns de inveja. E tem os que choram por recordarem de seus próprios matrimônios.
Existe o choro de menino birrento que quer uma coisa e não aceita negativas, choro fingido de pessoas que desejam sensibilizar alguém para conseguir algo. Aliás, as mulheres sabem disso e as suas lágrimas são, sem dúvida, sua melhor arma. Nas mulheres o choro é bem aceito, até considerado lindo; nos homens, o coitado é discriminado como sinal de fraqueza. Existe até um adágio: Homem que chora, mulher que jura, mentira pura.
Ainda sobre as mulheres, elas costumam chorar à toa durante a TPM. Isso acontece por causa da brusca mudança de hormônios e de substâncias no cérebro nesse período. O mesmo acontece com a mulher durante a gestação que alem da revolução hormonal em seu organismo, ocorre aumento do abdome, edema, rompimentos de veias quando não ocorrem as temidas estrias que ocasionam a baixa estima. Por esses motivos a gestante deve ter, por parte principalmente do marido, um grande carinho e atenção.
Nesse caso a mulher chora com facilidade, por causa de um simples filme, uma música ou até um comercial de televisão.
Quem costuma chorar à toa geralmente parece ser uma pessoa mais triste, mas, isso não é necessariamente um sinal de depressão, até porque o choro pode ser também de alegria. Deve-se ficar alerta, no entanto, que não sorrir e não achar graça em nada, por outro lado, pode ser um indício da doença, ainda mais se houver sintomas associados, como a vontade de ficar em casa e não se cuidar.
Alguém pode chorar decepcionado, magoado, feliz, e muitas outras formas de emoção. Seu choro pode ser um desabafo, um pedido, uma chantagem, um modo de se expressar. Pode chorar por estar sensibilizado diante de uma situação de sofrimento alheio, pode chorar pelo próprio sofrimento, ou seu choro nada ter a ver com sofrimento.
Enfim, uma mesma pessoa pode chorar porque está com raiva, com medo, por ser sensível, por ser insensível, por ser frágil, por ser forte, por ser odiado, por ser amado... há muitos e diferentes motivos para se chorar, e também para não chorar.
Ao afirmar que alguém chora por qualquer coisa, o que é qualquer coisa? Se acompanharmos o histórico da vida de uma pessoa, que todos nós médicos fazemos , podemos observar como ela vê o mundo, a si mesma, aos outros, o que ela valoriza, o que é importante a ela, como ela se expressa, quais são suas verdades, suas emoções, como se dá sua construção de conhecimento, entre outros tantos aspectos observáveis. É fantástico descobrir como aquilo que para nós é insignificante pode ser uma questão de vida ou morte para o outro; como o que nos toca, nos emociona, nada significa para o outro; como nossas formas de conhecimento são precárias e insuficientes para as necessidades do outro, como suas e nossas verdades são questionáveis e mutáveis...
Mais interessante é observar como o choro, muitas vezes, nos desconcerta, nos deixa sem ação. Em outras, nos convence. Pode também nos enraivecer. Há quem se envergonhe por chorar, como quem se orgulhe disso, há também quem se odeie a cada lágrima derramada. Há quem chore pedindo colo e quem o faça pedindo uma ajuda. Há quem chore pedindo perdão, e aquele que chora desejando um pedido de perdão
Há um choro que entrou para a história em nosso País. Foi à primeira copa do mundo realizada no Brasil. A festa já estava pronta. Cartazes de campeões do mundo eram vistos por toda parte e nas capas dos jornais. Políticos já tinham os discursos prontos. Uma nação inteira esperava apenas o apito final do inglês, Juiz da partida, para soltar o grito de alegria no maior estádio do mundo, o Maracanã, construído especialmente para aquela Copa do Mundo de 1950. Mas os milhões de brasileiros se esqueceram de avisar aos rivais uruguaios, campeões do mundo em 1930 e invictos em jogos de Copa. Os jogadores do Brasil não contavam com a fibra e a raça celeste. E, acima de tudo, não jogaram futebol, não se prepararam adequadamente, entraram já derrotados em campo. O resultado não poderia ser outro: Brasil 1×2 Uruguai. Mais de 200 mil pessoas no Maracanã ficaram emudecidas. E choraram. Muito. Foi o maior choro coletivo da história do futebol. Lenços que tremulavam antes da partida agora enxugavam as lágrimas que escorriam pelo rosto. Estava feita a tragédia
Sentimos melhores depois de chorar: e isso não é por acaso. Em determinadas situações, nosso cérebro produz certas substâncias, como a prolactina, que ativam a ação das glândulas lacrimais. Esta, cujas concentrações aumentam em momentos de estresse, reduz novamente sua quantidade quando começamos a chorar; tal como a adrenalina. Este fator, aliado à liberação de substâncias como a leucina-encefalina, noradrenalina e serotonina, nos proporciona uma sensação anestésica e de calma, aliviando a angústia e liberando a tensão.
Chorar só faz bem, desabafa, deixa-nos mais leves. Com o choro aprendemos a nos reconhecer como humanos. Chorar, portanto, faz bem a saúde, então chora a vontade. Tenha um bom choro.
Pensamento da semana
O divórcio é sintoma de uma era ou ferramenta máxima da liberdade individual, ou, como prefere Chico Buarque, uma forma de adoração às avessas? Fica aqui o conselho, esqueça-o. Fique com quem está, pois já conhece seus defeitos. E, acredite, não existe ninguém perfeito. Somos humanos.
Serafim Godinho
Nascemos chorando. O choro é o único recurso de comunicação do bebê até os três meses de idade. Por esse meio os bebês expressam fome, raiva, dor ou tédio e às vezes sem nenhum motivo. Afinal, quem não chora não mama.
Quanto aos adultos, choram por tudo e necessariamente não se precisa ser de tristeza. Pessoas choram de alegria, de emoção, por diversos motivos. Houve uma época em que o choro determinava a importância do falecido, tanto que existia a profissão de carpideira. Eram mulheres que se contratavam para chorar em velórios.
Por outro lado tem pessoas que gostam tanto de chorar que o faz de graça, freqüentando velórios, até de desconhecidos, pois ali é o melhor local para desabafar os seus próprios problemas.
Como a vida é feita de alegrias e tristezas, altos e baixos, planícies e montanhas, podemos afirmar que todos nós choramos. A diferença é que alguns o faz com estardalhaço enquanto outros são mais discretos.
Ernest Hemingway em seu romance - Por quem os sinos dobram, escreveu em seu famoso livro, o que à época era comum, o sino da Igreja anunciar tudo, inclusive o falecimento de uma pessoa.. Impensável hoje, com raras exceções uma igreja ser referência de todos os assuntos até mesmo em termos de comunicação. Com raras exceções, já se vão longínquos os tempos em que a Igreja era a referência de uma comunidade em todos os assuntos, inclusive em termos de comunicação. Com rádio, televisão, computador, internet e celular à mão, soam anacrônicas e até jocoso, além de improvável, imaginar que o sino de uma capela pos¬sa anunciar a uma população inteira um novo fato da localidade.
Mas era assim e Hemingway definiu bem a maior motivação do choro, na espécie humana: o sentimento de perda.
Ele afirma que a morte de qualquer ser humano reflete em nós como um todo. Daí a belíssima frase, quando ouvires os sinos dobrarem, não perguntes por quem eles dobram, lembrem-se que eles dobram por ti também.
Em uma solenidade de casamento, pode se observar, que alguns choram por sentimentos de perda, outros de orgulho, de felicidade, outro ate de tristeza e alguns de inveja. E tem os que choram por recordarem de seus próprios matrimônios.
Existe o choro de menino birrento que quer uma coisa e não aceita negativas, choro fingido de pessoas que desejam sensibilizar alguém para conseguir algo. Aliás, as mulheres sabem disso e as suas lágrimas são, sem dúvida, sua melhor arma. Nas mulheres o choro é bem aceito, até considerado lindo; nos homens, o coitado é discriminado como sinal de fraqueza. Existe até um adágio: Homem que chora, mulher que jura, mentira pura.
Ainda sobre as mulheres, elas costumam chorar à toa durante a TPM. Isso acontece por causa da brusca mudança de hormônios e de substâncias no cérebro nesse período. O mesmo acontece com a mulher durante a gestação que alem da revolução hormonal em seu organismo, ocorre aumento do abdome, edema, rompimentos de veias quando não ocorrem as temidas estrias que ocasionam a baixa estima. Por esses motivos a gestante deve ter, por parte principalmente do marido, um grande carinho e atenção.
Nesse caso a mulher chora com facilidade, por causa de um simples filme, uma música ou até um comercial de televisão.
Quem costuma chorar à toa geralmente parece ser uma pessoa mais triste, mas, isso não é necessariamente um sinal de depressão, até porque o choro pode ser também de alegria. Deve-se ficar alerta, no entanto, que não sorrir e não achar graça em nada, por outro lado, pode ser um indício da doença, ainda mais se houver sintomas associados, como a vontade de ficar em casa e não se cuidar.
Alguém pode chorar decepcionado, magoado, feliz, e muitas outras formas de emoção. Seu choro pode ser um desabafo, um pedido, uma chantagem, um modo de se expressar. Pode chorar por estar sensibilizado diante de uma situação de sofrimento alheio, pode chorar pelo próprio sofrimento, ou seu choro nada ter a ver com sofrimento.
Enfim, uma mesma pessoa pode chorar porque está com raiva, com medo, por ser sensível, por ser insensível, por ser frágil, por ser forte, por ser odiado, por ser amado... há muitos e diferentes motivos para se chorar, e também para não chorar.
Ao afirmar que alguém chora por qualquer coisa, o que é qualquer coisa? Se acompanharmos o histórico da vida de uma pessoa, que todos nós médicos fazemos , podemos observar como ela vê o mundo, a si mesma, aos outros, o que ela valoriza, o que é importante a ela, como ela se expressa, quais são suas verdades, suas emoções, como se dá sua construção de conhecimento, entre outros tantos aspectos observáveis. É fantástico descobrir como aquilo que para nós é insignificante pode ser uma questão de vida ou morte para o outro; como o que nos toca, nos emociona, nada significa para o outro; como nossas formas de conhecimento são precárias e insuficientes para as necessidades do outro, como suas e nossas verdades são questionáveis e mutáveis...
Mais interessante é observar como o choro, muitas vezes, nos desconcerta, nos deixa sem ação. Em outras, nos convence. Pode também nos enraivecer. Há quem se envergonhe por chorar, como quem se orgulhe disso, há também quem se odeie a cada lágrima derramada. Há quem chore pedindo colo e quem o faça pedindo uma ajuda. Há quem chore pedindo perdão, e aquele que chora desejando um pedido de perdão
Há um choro que entrou para a história em nosso País. Foi à primeira copa do mundo realizada no Brasil. A festa já estava pronta. Cartazes de campeões do mundo eram vistos por toda parte e nas capas dos jornais. Políticos já tinham os discursos prontos. Uma nação inteira esperava apenas o apito final do inglês, Juiz da partida, para soltar o grito de alegria no maior estádio do mundo, o Maracanã, construído especialmente para aquela Copa do Mundo de 1950. Mas os milhões de brasileiros se esqueceram de avisar aos rivais uruguaios, campeões do mundo em 1930 e invictos em jogos de Copa. Os jogadores do Brasil não contavam com a fibra e a raça celeste. E, acima de tudo, não jogaram futebol, não se prepararam adequadamente, entraram já derrotados em campo. O resultado não poderia ser outro: Brasil 1×2 Uruguai. Mais de 200 mil pessoas no Maracanã ficaram emudecidas. E choraram. Muito. Foi o maior choro coletivo da história do futebol. Lenços que tremulavam antes da partida agora enxugavam as lágrimas que escorriam pelo rosto. Estava feita a tragédia
Sentimos melhores depois de chorar: e isso não é por acaso. Em determinadas situações, nosso cérebro produz certas substâncias, como a prolactina, que ativam a ação das glândulas lacrimais. Esta, cujas concentrações aumentam em momentos de estresse, reduz novamente sua quantidade quando começamos a chorar; tal como a adrenalina. Este fator, aliado à liberação de substâncias como a leucina-encefalina, noradrenalina e serotonina, nos proporciona uma sensação anestésica e de calma, aliviando a angústia e liberando a tensão.
Chorar só faz bem, desabafa, deixa-nos mais leves. Com o choro aprendemos a nos reconhecer como humanos. Chorar, portanto, faz bem a saúde, então chora a vontade. Tenha um bom choro.
Pensamento da semana
O divórcio é sintoma de uma era ou ferramenta máxima da liberdade individual, ou, como prefere Chico Buarque, uma forma de adoração às avessas? Fica aqui o conselho, esqueça-o. Fique com quem está, pois já conhece seus defeitos. E, acredite, não existe ninguém perfeito. Somos humanos.
Serafim Godinho