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O que nosso lixo diz sobre nós - Por Ivonete Gomes
Quarta-feira, 06 Maio de 2015 - 17:27 | Ivonete Gomes
Sim, senhores. Lixo é Antropologia Cultural, fala o que somos e como nos comportamos. Chega a ser assustador, mas essa assertiva de muitos cientistas dedicados ao estudo do homem e da humanidade revela o lado nada zeloso dos administradores e alguns habitantes de Porto Velho. A despeito do amor incondicional dos naturais (incluindo esta jornalista), há uma opinião unânime: a capital de Rondônia é suja, quiçá a mais imunda do Brasil.
A veracidade desanimadora de uma cidade desleixada é o primeiro incômodo do morador ao sair de casa logo pela manhã. Na região central, onde se espera de qualquer lugar visão mais aprazível, a sujidade se estende como um tapete pelas calçadas, ruas e sarjetas. São garrafas de vidro e plástico, sacos e uma infinidade de resíduos descartados por jovens e adultos farristas na noite e madrugada anteriores.
E como um castigo dado a crianças malcriadas, a prefeitura nada faz ao longo de muitas horas, às vezes dias. Uma inércia absurda que prejudica aqueles que pagam impostos caros e mantém o mínimo de civilidade ao não corroborar com a imundície nas ruas.
A cena de lixo espalhado nas vias públicas se repete em quase todos os bairros. No Espaço Alternativo, acesso ao aeroporto, a porcalhada vem dos frequentadores do local, alguns poucos comerciantes e, é claro, do serviço mal executado pela Secretaria Municipal de Serviços Básicos (Semusb). O lixo jogado por portolvelhenses sem compromisso com a cidade (incluindo fezes de animais de estimação levados para passeio) é varrido e ensacado, mas demora a ser recolhido. Os que procuram saúde nas caminhadas matutinas encontram ambiente de total insalubridade gerado pelo descaso com o espaço público.
A falta de educação também ocorre nos cinemas. Ao final de cada sessão, não são poucos os que tropeçam no próprio lixo sem esboçar qualquer vergonha por não juntar pacotes de pipoca e garrafas de refrigerantes consumidos durante o filme.
O comportamento de muitos moradores está intrinsecamente ligado à cultura de que sempre haverá alguém que faça. Nos espaços públicos tem os garis para juntar o lixo, assim como no cinema os funcionários pagos para limpar.
Porto Velho tem urgência da consciência de cada um de seus habitantes. Que possamos iniciar uma mudança de comportamento recolhendo o próprio lixo e capinando a frente da própria casa.
Diz o conselho do pensador Jean Vien Jean: “se cada um varresse a calçada da sua casa, no fim do dia a rua toda estaria limpa”.