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Produtores adotam práticas sustentáveis na pecuária leiteira de Rondônia

Segunda-feira, 21 Março de 2016 - 22:21 | Da Redacao


Produzir mais leite com menos vacas em menor área de pastagem. Em outras palavras, revolucionar o setor com práticas sustentáveis. Há cinco anos, esse é o desafio da pecuária leiteira do estado de Rondônia, o oitavo maior produtor do Brasil com mais de 2,5 milhões de litros por dia, segundo dados da Idaron - Agência de Defesa Sanitária Agrosilvopastoril.

Do rebanho de 3,8 milhões cabeças, criadas em 38 mil propriedades rurais,  552 mil são vacas lactantes (fonte: Emater). Na região central do estado está concentrada a maior produção: 937 mil litros de leite por dia. O Vale do Anari vem em seguida com 412 mil; Rio Machado, 275 mil; Vale do Guaporé, 266 mil; Zona da Mata, 234 mil; Madeira Mamoré, 210 mil e Cone Zul, 201 mil unidades animais. O município de Jaru é o maior produtor individual de leite, com 6,22% do total de litros produzidos por dia.

O ciclo dessa nova produção com maior sustentabilidade começa no preparo do solo. Amostras de terras das propriedades são enviadas a laboratórios e, a partir daí, o produtor tem o calculo correto da quantidade de produtos necessários a serem aplicados na área. Dessa forma não gasta mais, nem menos do que precisa para ter uma terra fértil, apta a receber as sementes das forrageiras.

SISTEMA ROTACIONADO DE PASTAGEM

Para garantir a nutrição adequada ao gado leiteiro o ano todo, os produtores estão aprendendo a adotar o sistema rotacionado de pastagem. Dividem a área em módulos (piquetes) e manejam o gado de acordo com o tamanho da planta. Segundo o pesquisador da Embrapa, Pedro Gomes da Cruz, o gado deve entrar para pastagem em áreas onde o capim está com 70 cm de altura e ser retirado quando o pasto chegar a 30 cm. “Assim, o produtor garante que o animal sempre tenha um pasto com muita matéria verde, mantendo a nutrição necessária para a boa produtividade”.

A Embrapa também recomenda ao produtor a diversificação de variedades das cultivares de forrageiras e a utilização das espécies Mombaça e BRS Zuri, ambas resistentes a pragas como a cigarrinha-da-pastagem. “O que não aconselhamos é o produtor plantar mais de uma espécie no mesmo piquete. O ideal é que ele tenha uma área reservada para cada pasto diferente. Caso contrário não vai conseguir eficiência na hora de medir a altura do capim para entrada e saída do gado”, explica o pesquisador.

No município de Machadinho do Oeste, a 325 quilômetros de Porto Velho, o produtor Erisandro Marcos Soares, aposta no sistema rotacionado desde 2009. Este ano, resolveu dividir três hectares de pasto entre as cultivares de braquiária híbrida Convert e a Mombaça.

“No período da seca, o pasto Convert fica sempre verde. É uma planta que apresenta muita resistência à seca. Já no inverno o melhor capim é o Mombaça, porque tem maior quantidade de matéria, o pasto fica mais alto”, diz o produtor que passou a gastar menos com complementação alimentar das vacas no período da entressafra.

 “Mulata Pelada” para complementar

Para animais com produtividade superior a 12 quilos de leite por dia, o zootecnista Daniel Moreira Lambertucci recomenda a suplementação com concentrado (a base de milho e sal mineral) e volumoso (cana-de-açucar triturada).

“Recomendamos o plantio da cana-de-açucar Mulata Pelada. É uma espécie com pouca folhagem e alta produtividade por hectare. Produz até 120 toneladas de matéria  por hectare, superando de três a quatro vezes a produção de silagem de milho. Tem menor valor nutricional, mas o produtor pode fazer essa correção com o uso de ureia, elevando de 4% para 12% a quantidade de proteína”, explica o zootecnista, que também é analista da Embrapa em Rondônia.

A genética do gado melhorou e a vida do produtor mudou

Quando o assunto é pecuária leiteira, nada caminha de forma independente. Assim como um pasto de qualidade e uma suplementação nutricional adequada, a alta produtividade do leite também depende do melhoramento genético do gado. Gestor ambiental, Eanes Freire tornou-se uma das maiores autoridades do assunto em Rondônia. Ele orienta e acompanha de perto os trabalhos em propriedades modelos como a do produtor Erisandro Marcos Soares, de Machadinho.

“Aqui já estamos caminhando para terceira geração e daqui a pouco o produtor já vai ter o PS (Puro Sintético)”, explica Eanes.

Os cruzamentos de raças são feitos pela técnica de inseminação artificial. As vacas da raça Holandesa recebem sêmens de touros Gir Leiteiro, e vice-versa, até alcançar o grau de sangue 5/8 (cinco oitavos) Euro-Zebu, quando passam a ser designadas como raça Girolando.

“A raça Holandesa não tem resistência ao calor, mas é um animal de alta produtividade de leite. Já a Gir é um gado rústico, mas não produz a mesma quantidade de leite. O cruzamento das duas raças, o Girolando, é o ideal para Rondônia”, afirma o gestor ambiental.

Com as boas práticas de preparo do solo, a adoção de pastejo rotacionado e o melhoramento genético, o produtor de Machadinho mudou completamente a vida financeira da família. Há cinco anos trabalhava em uma área de 46 hectares com 40 vacas lactantes produzindo 160 litros de leite por dia, uma média de quatro litros por vaca. Hoje, em uma área de três hectares ele tem 18 vacas com produtividade média de nove litros por dia.

“Crio praticamente metade das vacas que criava antes, gasto menor área com pastagem e fico com o lucro de cinco litros de leite por dia de cada vaca ordenhada”, diz o produtor.

Governo, laticínios e produtor: parceria no nitrogênio

A pecuária leiteira é a atividade que mais mantém o homem no campo. Enquanto o gado de corte é para os grandes, o de leite está concentrado nas pequenas propriedades de atividade familiar. Não exige muita mão de obra, mas necessita de apoio para crescer e se tornar eficiente.

Como o lucro do leite está em centavos, manter menor pastagem e quantidade reduzida de animais é o ideal para o pequeno pecuarista. A ausência de touros em uma propriedade garante maior eficiência e economia. O macho gera despesas com alimentação, vacina e pode transmitir doenças de uma vaca para outra. O ideal é ter somente os sêmens dos reprodutores mantidos em botijões térmicos com nitrogênio líquido e isolamento a vácuo. Cem doses do sêmen de um touro avaliado em R$ 2 milhões, não ultrapassa o custo de R$ 25,00.

Em 2009, governo, produtores e laticínios firmaram uma parceria para alavancar o melhoramento genético do gado leiteiro de Rondônia. O estado produz o nitrogênio usado na preservação de sêmens, repassa aos laticínios pela metade do preço que entregam gratuitamente nas propriedades onde adquirem o leite para processamento.

“Sem essa parceria, o custo do nitrogênio seria um grande gargalo e inviabilizaria a produção leiteira nas pequenas propriedades”, diz o gestor ambiental Eanes Freire.

Boas práticas na ordenha: higiene em primeiro lugar

Depois de todo o processo de produção, é hora da ordenha, fase em que o produtor deve ter cuidado redobrado com higiene e sanidade da glândula mamária da vaca. Para manter a saúde do animal e a qualidade do leite, o médico veterinário Rhuan Amorim de Lima, analista de transferência e tecnologia da Embrapa, dá quatro dicas simples.

1ª etapa: lavar o teto da vaca com água clorada;

2ª etapa: enxugar com papel toalha (nunca toalha de pano);

3ª etapa: despejar o primeiro jato de leite em caneca telada para verificar a existência de anormalidades, como formação de grumos ou gotas de sangue – sintoma de Mastite (inflamação na glândula mamária);

4ª etapa – realizar pós-dipping - imersão de tetos em substância antisséptica iodada para evitar entrada de bactérias no úbere que fica com canal aberto logo após a ordenha.

Qualidade do leite

Outro grande desafio da pecuária leiteira de Rondônia é a qualidade do produto que chega aos laticínios. As empresas instaladas no estado mantêm laboratórios para verificação de acidez, gordura, densidade, uso de conservantes e fraude por adição de leite. Mas, os exames mais aguçados de Contagem de Células Somáticas (CCS) e Contagem Total de Bactérias (CTB), são realizados em outros estados.

Um prédio já está pronto no campo da Embrapa em Porto Velho para a implantação do Laboratório de Qualidade de Leite (LQL). “Estamos aguardando somente a finalização dos trâmites burocráticos”, explicou o chefe-geral da Embrapa, César Teixeira.

Produção de Leite a pasto e Proleite

Para garantir a implantação das novas tecnologias recomendadas para recuperação, reforma e renovação de pastagens, a Secretaria de Estado da Agricultura (Seagri) lançou o projeto “Produção de Leite a Pasto”.

Nos 52 municípios do estado estão credenciadas 667 propriedades. Cada uma delas receberá 20 horas-máquina para arar, gradear e plantar. O produtor também receberá adubo fosfatado, nitrogenado e potássio, além de um kit de cerca elétrica.

O projeto está orçado em R$ 6.124,00, por unidade. Desse valor R$ 4.286,80 são subsidiados pelo fundo Proleite, um programa regulamentado através de decreto para criação de política de incentivo e apoio ao desenvolvimento da pecuária leiteira.

O projeto “Produção de Leite a Pasto” funciona como um mecanismo de intervenção a práticas inadequadas na formação do pasto. “Não podemos mais permitir que as pastagens sejam manejadas com alta taxa de lotação e sistema de pastejo contínuo. Isso gera maior degradação e, consequentemente, maiores investimentos para correção”, disse Evandro Padovani, secretário de agricultura do estado.

Indústria Miraella

Genuinamente rondoniense, a empresa Miraella é uma das 37 instaladas no estado. Mantém cinco plantas construídas nos municípios de Rolim de Moura, Santa Luzia, Nova Brasilândia e Nova Horizonte com capacidade para processamento de 150 mil litros de leite por dia, mas trabalha atualmente com somente 85 mil/litros. Produz queijos muçarela, prato e coalho, além de manteiga, requeijão, doce de leite, iogurte e leite pasteurizado. Vende 85% da produção de queijo para os estados de São Paulo, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Rio de Janeiro.

O proprietário da empresa, Pedro Bertelli, é também presidente do Sindicato da Indústria de Laticínios do estado de Rondônia (Sindileite) e lamenta a falta de matéria-prima no período do entressafra.

“Desde maio estou com a planta de Nova Brasilândia fechada. Todas as indústrias sofrem nesse período com uma queda de quase 50% da produção de leite. No pico da safra, os laticínios ainda ficam com 30% abaixo da capacidade total instalada”, diz Bertelli.

Os empresários do setor lácteo de Rondônia esperam que as novas tecnologias cheguem mais rápido ao homem do campo para garantir a alta produtividade. “Não critico a Emater. O técnico que cuida da pecuária leiteira é o mesmo que cuida do gado de corte, peixe e outras culturas. Não dá conta. A Emater precisa ampliar o quadro de técnicos”, diz o empresário.

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