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Rondônia- Terra da Dengue Estado de Boi Pirata ou Boi de Piranha
Sexta-feira, 05 Março de 2010 - 10:16 | Tadeu Fernandes
Acabo de ler que os graves riscos da dengue avançam de maneira devastadora e que Rondônia praticamente lidera o número de casos em todo o País, passando de 900 por 100 mil habitantes. Trata-se de um problema de saúde pública, verdadeira epidemia que deixa a população em estado de desespero.
Não podemos mais permitir que este grave problema que atinge diretamente a vida do cidadão se alastre ainda mais.
Não sou especialista no assunto, porém, enquanto cidadão, sinto-me na obrigação de pesquisar um pouco sobre o assunto e alertar a população.
Sei que o mosquito é proveniente do Egito, origem de seu nome, alimenta-se de vegetais e transmite doenças como a febre amarela e a dengue. Somente as fêmeas picam os seres humanos, pois precisam da proteína ferroglobulina, presente no sangue, para desenvolver seus ovos. O mosquito reproduz em água semi-limpa, por isto devemos vedar e encobrir tudo quanto for possível, não esquecendo de emborcar garrafas.
As fêmeas botam seus ovos acima da água, desenvolvendo-se após sete dias. Cada fêmea bota em média 300 ovos, que podem permanecer até um ano fora do ambiente que lhe é adequado e apresentam índice de sobrevivência acima dos 60%. O inseto é atraído pelo calor, transpiração, odor e respiração.
A fêmea espeta seu ferrão atingindo o sangue junto com sua saliva que contem uma proteína anticoagulante para evitar que o canal se obstrua, começando aí a sugar o líquido precioso (sangue). Com isso pode sugar até cinco microlitros de sangue e deixa um pouco de saliva na pele, o que provoca coceira e um pequeno inchaço. Na saliva está armazenado o vírus da dengue. Um único mosquito pode picar até 300 vezes. A prevenção geralmente é bastante difícil, mas devemos tomar alguns cuidados, como usar inseticidas elétricos, mosquiteiros, fumaça, pois o mosquito não suporta seu cheiro, velas de citronela, uma espécie de capim verde e andiroba são eficientes.
Uma vez atingidos, sofremos as consequências da dengue clássica de treze a quinze dias, manifestada com febre alta, dor de cabeça, principalmente atrás dos olhos, prostração, falta de apetite, diarréia, vomito, erupção cutânea, aumento do volume do fígado, dor nas articulações e abdominal. E o que é pior: a dengue hemorrágica, onde os sintomas são os mesmos, mas as consequências podem ser fatais, ocasionando a redução das plaquetas, concentração de hemácias e pressão baixa, pulso fraco, dor de estômago, insuficiência respiratória, agitação e torpor, e em último caso, choque hemorrágico que pode levar a morte.
Estas são informações e conclusões que devem ser prestadas pelos médicos e especialistas. Mas como se trata de epidemia e verdadeira calamidade pública, faço na condição de rondoniense que assiste no dia a dia muita dor e sofrimento, com parentes, amigos e a população de uma maneira geral.
O principal responsável pela prevenção, cuidados e tratamento dos infectados é o poder público, que deve se engajar com mais profundidade nesta epidemia que ultrapassou o razoável e é assunto de importância crucial para toda a população. Trata-se de saúde e da vida, o que nos faz esperar por mutirões e ações imediatas, além de elevados investimentos que devem ser feitos para que não nos sintamos tão abandonados e desprotegidos pelos gestores públicos.
Porto Velho e as cidades do interior não podem ser motivo para manchetes nacionais como terra abandonada, com seus habitantes relegados a segundo plano diante da inexistência de políticas públicas que efetivamente combatam essa doença que tem feito vítimas e o sofrimento de tantos.
Este pedaço do Brasil tão atingindo por notícias depreciativas, às vezes com campanhas negativas abordando um estado devastador, terra dos bois piratas, de degradados e outros afins, merece que sejam unidas todas as forças para que no dia de amanhã sejamos um estado forte e seu povo sadio e feliz. As eleições estão aí e quem cumprir seu dever colherá os frutos. Os omissos e ausentes serão cobrados impiedosamente pelo povo.
A população de Rondônia já foi enormemente prejudicada pelas investidas descontroladas de algumas autoridades da área federal que nos tratam como se fossemos o fundo do quintal da Nação. Um grande exemplo é o Ministro Minc que denigre e divulga constantemente fatos negativos do nosso Estado, denominando a maioria do nosso rebanho bovino de “boi pirata”, que somos devastadores de florestas.
O que sempre fomos foi “boi de piranha”, servindo nossas riquezas para dar sustentação e lucro a grandes grupos econômicos e a outros estados da federação. Assim foi com a borracha, o estanho, o ouro, com nossas riquezas agropecuárias, e mais recentemente com a utilização dos recursos hídricos para a construção das hidrelétricas do Madeira. Esquecem que a construção desta importa unidade da federação é fruto de muito trabalho e sacrifício dos brasileiros que aqui já habitavam, somando a maioria de imigrantes que entregaram suas vidas com suas famílias para edificar um novo estado que dignificasse a todos.
Onde estava o Ministro do Meio Ambiente quando mais de 90 toneladas de peixes morreram e exalaram forte odor na Lagoa Rodrigo de Freitas. Certamente são peixes piratas vindos do mar. O canal de Marapendi encontra-se danosamente infectado. No Rio de Janeiro é fácil constatar o cheiro horrível ao desembargarmos no aeroporto do Galeão, assim como é patente a devastação da mata atlântica, tudo acontece na terra onde o ministro reside e foi secretário do meio ambiente.
A questão da dengue é causada principalmente por desrespeitarmos o meio ambiente, não fazer a limpeza e saneamento dos detritos nas residências e nas ruas de maneira adequada, e ainda, pela falta de investimento em infra-estrutura e prevenção da doença. É o momento de o ilustre Ministro aportar midiaticamente com suas belas jaquetas, seus helicópteros, exigindo providências imediatas na prevenção e investimento ao meio ambiente, infra-estrutura e saneamento básico para debelar o mosquito da dengue.
Os principais responsáveis são os gestores públicos, responsabilidade que se estende também, em grande parte, para a população que deixa de fazer sua parte. Não adianta placas fixadas informando que estão investindo no desenvolvimento de Porto Velho, pois é preciso que sejam adotadas políticas públicas de saneamento e enfrentamento em regime de guerra contra a dengue. Moramos em uma cidade onde pouco se investe na qualidade de vida e proteção a saúde do cidadão.
Leio que o governo federal, através do IBAMA, concedeu licença para construção da Hidrelétrica de Belo Monte no Pará, sendo que as empresas que se habilitarem para a licitação se obrigarão a um investimento de 1,5 bilhão como compensação ambiental. Quanto às hidrelétricas do Madeira, com muito custo, segundo consta, foi estabelecido investimento de compensação somente de 150 milhões.
Vamos contribuir com a nossa parte, mas temos o direito de cobrar que se faça maciço investimento na prevenção desse mal que nos assola, caso contrário, seremos fatalmente vencidos pela dengue, malária e outras doenças tropicais.
Temos tudo para sermos um dos mais importantes estados da federação, com terras férteis, recursos minerais e hídricos, mas nada valerá se não formos a fundo e debelarmos este mal que nos atemoriza.
O que se espera é que sejam criadas obrigações mais severas para os administradores públicos na destinação de verbas mais significativas para o combate às doenças endêmicas, devendo ser penalizadas as pessoas que com ações ou omissões tenham suas parcelas de responsabilidade nos criadouros e na proliferação do mosquito transmissor da dengue.
Os Órgãos de fiscalização da União, do Estado e dos Municípios, principalmente o Ministério Público, têm papel significativo para baixar os índices de casos que assolam nosso estado. O quadro é triste de se ver, muito mais para chorar do que sorrir. Devemos tornar pública a nossa indignação e exigir que nossos direitos sejam respeitados.
Tadeu Fernandes - Advogado