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Saúde mental da mulher
Terça-feira, 13 Março de 2018 - 14:16 | por Juliana de Oliveira
Falar sobre a saúde mental da mulher em apenas um texto pode parecer uma tarefa difícil, considerando que existe uma diversidade de aspectos únicos que a envolve. Porém, é importante agregarmos ao mês em que se comemora o Dia Internacional da Mulher o alerta sobre saúde psicológica, emocional, amadurecimento e autoconhecimento.
O dia da mulher existe a partir de um marco de posicionamento feminino em busca de melhorias na área trabalhista, no contexto da Revolução Industrial. Desde então, se iniciaram lutas em busca de igualdade de direitos em todas as esferas em que se observava uma lacuna de participação, por exemplo, nos campos da educação, política e liberdade de opinião.
Atualmente, as mulheres já alcançaram grandes avanços e ocupam espaços antes majoritariamente masculinos, como a política, o futebol e o universo científico. Mas, mesmo em 2018, século 21, ainda enfrentamos preconceitos, imposição de padrões de beleza e comportamento, intolerâncias, machismo e abusos. Tudo isso contribui para como a mulher se vê dentro da sociedade, sobre qual é o seu papel e sobre como é vista.
Pode não parecer, mas esses três aspectos são pilares da saúde psicológica de qualquer pessoa. Por exemplo, se uma mulher gosta de estar na moda e de se maquiar é interessante que ela faça isso por prazer, porém se ela não se sentir à vontade sem maquiagem e precise sempre estar maquiada para se sentir bonita ou bem vista, podemos observar características de uma pessoa com baixa autoestima e baixa capacidade de aceitação de si ou amor próprio. A pesquisa “Real Beleza” realizada pela marca Dove constatou que as brasileiras estão em 2º lugar no índice de insatisfação física, além disso, o Brasil é um dos maiores consumidores de produtos de beleza no mundo. Isso pode significar que as brasileiras estão sempre em busca de ideais estéticos inalcançáveis, que ferem sua singularidade, e que a cobrança por corpos esbeltos, pele e cabelos maravilhosos é bastante alta, o que pode gerar no público feminino grande sentimento de frustração, rejeição e baixa autoestima.
Um ponto preocupante para o público feminino é a questão dos abusos sofridos no dia a dia, dentro e fora de casa. Entre eles estão a violência física, sexual e psicológica, assédio moral e sexual e os relacionamentos abusivos. A cada 7 segundos uma mulher sofre violência física no Brasil (Instituto Maria da Penha), 40% das mulheres no Brasil, por volta de 30 milhões, em 2016, sofreram algum tipo de assédio como, receber comentários desrespeitosos, assédio físico no transporte público ou foram agarradas ou beijadas sem seu consentimento (Datafolha). Em 80% dos casos de abuso o agressor é um homem próximo da vítima, ou seja, maridos, parceiros, namorados, pais, padrastos, irmãos ou algum conhecido. Além da violência expressa, outras modalidades como a violência psicológica e moral são preocupantes. Atos como humilhar, xingar, diminuir, restringir as vontades e comportamentos da mulher são considerados violência. Essas atitudes muitas vezes são mascaradas como sendo ciúmes, atitude preocupada e protetora do parceiro e acabam sendo negligenciadas e aceitas pela mulher, que se torna refém de uma relação doente, que pode trazer como consequência uma depressão, transtorno de estresse pós-traumático, transferências de dores psicológicas para o corpo e outros tipos de problemas.
Todo esse contexto, aliado também à sensibilidade hormonal, pode ser propício para o surgimento de problemas relacionados à saúde mental. A prevalência de transtornos como depressão, ansiedade, pânico, estresse pós-traumático e transtorno disfórico pré-menstrual é maior no público feminino do que no masculino. É importante ressaltar que as mulheres buscam mais ajuda do que os homens quando estão com alguma dificuldade de cunho emocional ou psicológico e isso deve ser reforçado como um comportamento positivo. Essa habilidade permite que haja uma evolução no comportamento feminino, buscar a compreensão de seus sentimentos faz florescer o autoconhecimento e assim a mulher poderá se posicionar com mais clareza e firmeza em qualquer ambiente.
Todos os dias as mulheres acordam soterradas por diversas exigências, obrigações e obstáculos a serem superados, associados ainda a jornadas duplas ou triplas bastante cansativas, mas que enfrentam para alcançar seus objetivos. Para isso é necessário estar bem consigo e mostrar, sempre que possível, para as outras mulheres, o quanto é importante se conhecer e estabelecer o que nos faz bem e o que nos faz mal. Só assim poderemos construir uma sociedade melhor para todas as PESSOAS.
*Juliana de Oliveira é Psicóloga, formada pela Universidade Federal de Rondônia – UNIR. Especialista em Gestão Organizacional e de Pessoas pela Universidade Federal de São Carlos - UFSCar. Atende atualmente na clínica Fábrica de Competências em Porto Velho.