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Violência Psicológica
Segunda-feira, 05 Novembro de 2018 - 15:28 | por Juliana Maria de Oliveira
Convivemos com a violência todos os dias. Guerras, assaltos, mortes, brigas, tiros, socos e tapas. A violência está nos noticiários, nos filmes, nas novelas, nos seriados e também nos desenhos infantis. Em muitos casos, a violência é considerada um ato heroico. Percebemos a violência como algo físico, que fere o corpo, que é possível ser visto e sentido. Porém existem outros tipos de violência, mais silenciosas e que não deixam marcas visíveis nos corpos, é o caso da violência psicológica.
A violência psicológica envolve humilhação, rejeição, discriminação, desrespeito e depreciação. Ocorre em relações em que há desigualdade de poder, aparecendo também na forma de punições, castigos exagerados e ameaças. O agressor pode se valer também do domínio financeiro sobre o agredido e subjugar o outro impondo proibições ou restrições.
Os principais instrumentos do agressor psicológico são as atitudes e as palavras. A agressão verbal que diminui o outro não precisa necessariamente ser em tom agressivo, como um grito, pode ser em tom sutil, vir como um comentário. Outra característica da violência psicológica é causar o isolamento relacional e gerar um sentimento de intimidação direto ou indireto no agredido.
Esse tipo de violência pode acontecer em diversos contextos, seja ele doméstico, no local de trabalho, conhecido como assédio moral, em grupos de amigos e relacionamentos afetivos. E podem atingir qualquer pessoa, homens, mulheres, crianças, idosos. A vulnerabilidade de quem passa por esse tipo de violência pode ser relacional e também intrínseca a sua condição, como no caso das crianças, idosos e mulheres.
A violência psicológica enfrenta dificuldades para ser reconhecida e comprovada, de modo que a responsabilização do agressor fica prejudicada. Porém, a Lei Maria da Penha (11.340/06) em seu artigo 7º, inciso II, descreve esse tipo de violência como “qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação”, abrindo caminho para que a violência psicológica seja levada ao judiciário.
Por não ser um tipo de violência palpável, há uma enorme tendência a minimizar a relevância e o impacto da violência psicológica. É comum o discurso de quem sofre isentar o agressor. Comentários como “só me xinga em momentos de raiva, depois passa.”, “essa pessoa é assim mesmo, mas sei que não faz por mal” ou levar humilhações em tom de brincadeira podem demonstrar um medo velado de encarar a situação ou até mesmo a não percepção de que se está passando por isso.
As consequências da violência psicológica incluem o desenvolvimento de transtornos psicológicos como depressão e ansiedade, alcoolismo, uso de drogas, autoestima fragilizada, distúrbios gastrintestinais e, principalmente, sofrimento psíquico.
É importante compreender que quem é vítima de violência psicológica pode não estar percebendo isso, dessa forma é crucial que outras pessoas inseridas no contexto a alertem sobre o tema e sobre o que pode ser feito, desde procurar ajuda psicológica até comunicar o judiciário. Ouvir o outro e questionar-se sobre estar vivenciando uma relação violenta psicologicamente também é necessário.
A violência psicológica não deve ser minimizada, negligenciada ou ser motivo de chacota. Esta violência é tão prejudicial quanto a violência física, causando comprometimento cognitivo, como na concentração e memória, falta de confiança em si e tantos outros efeitos que impedem o bem-estar emocional, social e uma vida saudável.
A autora é psicóloga CRP 20/04976. Formada pela Universidade Federal de Rondônia – UNIR. Especialista em Gestão Organizacional e de Pessoas pela Universidade Federal de São Carlos - UFSCar. Atende atualmente na clínica Fábrica de Competências em Porto Velho